Quando o bebê está em posição sentada (pélvica) no final da gestação, é natural que surjam dúvidas e ansiedade: será que ele vai virar sozinho? Preciso me preocupar? Existem formas naturais de ajudá-lo?
A boa notícia é que a maioria dos bebês vira espontaneamente até o final da gravidez. Cerca de 96 a 97% dos bebês estão cefálicos ao final das 37 semanas. Mas quando isso não acontece, muitas famílias buscam alternativas não invasivas que possam colaborar com essa rotação natural.
Neste artigo, reunimos os principais métodos naturais utilizados com esse objetivo, explicando o que são, como e quando aplicar, e principalmente qual é o nível de evidência científica disponível para cada um. Tudo com base nas melhores fontes internacionais: Cochrane, ACOG, RCOG, NICE e estudos recentes da literatura científica.
1. Exercícios posturais e mudanças de posição
O que são:
São exercícios que usam a gravidade e o alongamento dos ligamentos e músculos pélvicos para incentivar o bebê a se mover e girar. Algumas posições são inspiradas em práticas como yoga, fisioterapia obstétrica e técnicas como Spinning Babies®.
Exemplos mais utilizados:
- Inclinação pélvica inclinada (pelvic tilt): deitada com quadril elevado em relação aos ombros, por 10–15 minutos, 2 vezes ao dia. Pode ser feita com travesseiros sob o quadril ou com apoio de uma prancha inclinada.
- Posição de quatro apoios (hands and knees): semelhante à posição de gato e vaca do yoga, ajuda a liberar a pelve.
- Rebozo sifting: técnica tradicional mexicana, com ajuda de um tecido para balançar suavemente a pelve.
- Forward-leaning inversion (Spinning Babies®): consiste em ajoelhar-se na beirada de uma escada ou superfície elevada e inclinar o tronco para baixo, apoiando os braços no chão.
- Posição lateral guiada pelo dorso fetal (BRLT Study, 2025): A gestante deita-se de lado conforme a posição do dorso do bebê: Quando o bebê está sentado: deitar do lado oposto ao dorso fetal. Após o bebê virar: deitar do lado do mesmo lado do dorso fetal (para prevenir recidiva). Como fazer: 3 vezes ao dia, por 15 minutos. A posição do dorso deve ser avaliada por ultrassonografia ou palpação abdominal.
Quando fazer:
A partir de 32–34 semanas de gestação, com orientação profissional e sem contraindicações obstétricas.
Nível de evidência:
🔶 Baixo a moderado. Não há ensaios clínicos controlados de alta qualidade que comprovem eficácia, mas muitos profissionais observam benefícios em casos individuais. Potencialmente seguro, especialmente se orientado por fisioterapeutas ou doulas experientes.
2. Acupuntura
O que é:
Prática milenar da Medicina Tradicional Chinesa que utiliza agulhas finas em pontos específicos para reequilibrar a energia do corpo. Quando aplicada para versão fetal, os pontos mais utilizados são os do meridiano da bexiga (especialmente o ponto BL67, no dedo mínimo do pé).
Quando fazer:
Entre 33 e 36 semanas, idealmente associada à moxabustão (veja abaixo).
Nível de evidência:
🔶 Baixo a moderado. Revisões sistemáticas (Cochrane, 2012) mostram resultados promissores, mas os estudos são heterogêneos e com risco de viés. Pode ser considerada segura se realizada por profissional qualificado.
3. Moxabustão (ou moxa)
O que é:
Técnica da Medicina Chinesa que consiste em aquecer pontos de acupuntura usando bastões de artemísia queimando próxima à pele, especialmente sobre o ponto BL67. Acredita-se que o calor e a estimulação nervosa promovam aumento da movimentação fetal.
Como fazer:
Aplicada geralmente de 15 a 20 minutos por dia, durante 7 a 10 dias, com início ideal entre 33 e 36 semanas.
Nível de evidência:
🟡 Moderado. A revisão Cochrane de 2012 (Coyle et al.) mostrou que a moxabustão pode reduzir a incidência de apresentação pélvica ao nascimento, especialmente quando combinada com acupuntura, embora os resultados variem conforme a qualidade do estudo.
4. Auriculoterapia
O que é:
Técnica que utiliza pontos reflexos na orelha para tratar condições diversas. Pode ser feita com agulhas ou pequenas sementes fixadas com esparadrapo.
Nível de evidência:
🔴 Muito baixo. Não há evidências científicas suficientes que sustentem seu uso com eficácia comprovada para versão fetal. É segura, mas deve ser considerada como prática complementar, sem expectativa de resultado garantido.
5. Estimulação vibroacústica
O que é:
Uso de sons (música, batidas rítmicas, vozes) próximos à parte inferior do abdome para estimular o bebê a se mover em direção ao som.
Como fazer:
Colocar fones ou um pequeno alto-falante abaixo da linha da barriga por 10 a 15 minutos ao dia.
Nível de evidência:
🔴 Muito baixo. Existem relatos anedóticos e pequenos estudos, mas nenhum ensaio clínico controlado que comprove eficácia. Considerada segura, desde que feita com volume moderado.
6. Hidroterapia (banho de piscina ou flutuação controlada)
O que é:
A imersão em água morna pode relaxar a musculatura pélvica e facilitar a movimentação do bebê.
Nível de evidência:
🔶 Baixo. Não há estudos diretos sobre hidroterapia e rotação fetal, mas os benefícios do relaxamento e da mobilidade pélvica são reconhecidos.
7. Técnica Webster (quiropraxia obstétrica)
O que é:
Técnica da quiropraxia que busca equilibrar a pelve, o sacro e os ligamentos uterinos. Defensores argumentam que melhora o espaço uterino para o bebê girar espontaneamente.
Quando fazer:
Idealmente entre 32 e 36 semanas, com profissional certificado.
Nível de evidência:
🔶 Baixo. Há estudos de casos e séries clínicas com relatos positivos, mas ainda sem evidência de alta qualidade. Pode ser considerada por profissionais e gestantes abertas à abordagem integrativa, desde que feita com segurança.
8. Chás, bebidas ou suplementos naturais
O que é:
Há relatos populares de uso de chás (como hortelã-pimenta, canela ou folhas de framboesa) ou suplementos naturais, com a crença de estimular a atividade uterina ou fetal.
Nível de evidência:
🔴 Muito baixo e não recomendado. Não há evidências científicas que sustentem esses usos. Alguns chás podem ser contraindicados na gravidez. Nunca utilize sem orientação profissional.
Quando procurar ajuda especializada?
Se o bebê permanece em apresentação pélvica após 36 semanas, é essencial conversar com a equipe obstétrica para avaliar as opções disponíveis, entre elas a Versão Cefálica Externa (VCE), que é segura e eficaz quando realizada por profissionais experientes e em ambiente adequado.
Considerações finais
- A maioria dos métodos naturais são seguros quando aplicados com orientação e critério, mas poucos têm comprovação científica robusta.
- O mais importante é que a mulher seja bem informada, tenha suas escolhas respeitadas e possa contar com uma equipe que une conhecimento técnico e sensibilidade ao cuidado.
- No Instituto Nascer, acolhemos cada mulher com o respeito, o tempo e o olhar individualizado que ela merece. E quando o bebê está sentado, trabalhamos juntos para explorar caminhos possíveis — com ciência, empatia e confiança.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes:
- Coyle ME, et al. Complementary and alternative therapies for turning a breech baby into a head-down position. Cochrane Database Syst Rev. 2012.
- ACOG Practice Bulletin No. 745: Management of Breech Presentation. Obstet Gynecol. 2020.
- NHS Guidelines: Moxibustion for breech presentation. 2017.
- Spinning Babies® Official Website
- RCOG Green-top Guideline No. 20a: Management of Breech Presentation. 2017.