O período da gestação é cheio de descobertas, expectativas e também de alguns termos médicos que podem causar dúvidas ou preocupação. Um desses termos é o “colo curto” ou “encurtamento do colo uterino” — uma condição que, quando identificada, pode ter grande impacto no planejamento do pré-natal e na prevenção do parto prematuro.
Aqui no Instituto Nascer, acreditamos que informação de qualidade e acolhimento são ferramentas fundamentais para fortalecer o protagonismo da mulher no cuidado com a sua gestação. Por isso, vamos te explicar de forma clara e com base nas melhores evidências científicas o que é o colo curto, como ele é diagnosticado, quais os riscos e como pode ser tratado.
O que é o colo do útero e por que seu comprimento importa na gravidez?
O colo do útero é a parte inferior do útero que se conecta com a vagina. Durante a gestação, ele tem a função de manter o bebê dentro do útero até que esteja pronto para nascer. Ele atua como uma “porta fechada” que só deve começar a se abrir quando o trabalho de parto se inicia.
Um colo considerado “normal” entre 18 e 24 semanas de gestação (no segundo trimestre) tem, geralmente, mais de 25 mm de comprimento. Quando o comprimento está igual ou inferior a 25 mm, dizemos que há colo curto — uma condição que está associada a maior risco de parto prematuro espontâneo.
Quais os fatores de risco para ter colo curto?
- História prévia de parto prematuro espontâneo
- Cirurgias cervicais (como conização ou LEEP)
- Gestação múltipla (gêmeos ou mais)
- Anomalias uterinas congênitas
- Gestações com sintomas de pressão pélvica, contrações precoces ou perdas gestacionais tardias
Como é feito o diagnóstico do colo curto?
O único método confiável e validado para avaliar o comprimento do colo uterino é a ultrassonografia transvaginal, preferencialmente realizada entre 18 e 24 semanas de gestação.
Apesar disso, as principais diretrizes internacionais — como ACOG, SMFM e RCOG — não recomendam o rastreamento universal para todas as gestantes, mas sim a triagem direcionada àquelas com fatores de risco, especialmente histórico de prematuridade.
No entanto, clínicas que atuam com enfoque preventivo, como o Instituto Nascer, muitas vezes discutem com cada mulher a possibilidade de avaliação mesmo em gestações de baixo risco, como forma de personalizar o cuidado.
Quais os riscos do colo curto na gravidez
O principal risco associado ao colo curto é o parto prematuro espontâneo, especialmente quando identificado antes das 24 semanas. O parto prematuro é uma das principais causas de complicações neonatais, incluindo:
- Distúrbios respiratórios
- Hemorragias intracranianas
- Infecções graves
- Internações prolongadas em UTI neonatal
- Maior risco de sequelas a longo prazo
Quais os tratamentos disponíveis? O que a medicina baseada em evidências recomenda?
As opções de prevenção ou intervenção vão depender da história obstétrica da mulher e do comprimento do colo uterino:
✅ 1. Progesterona vaginal
- Recomendação de primeira linha para gestantes com colo ≤ 25 mm sem história prévia de parto prematuro.
- Reduz significativamente o risco de parto prematuro antes de 34 semanas.
- Dose comumente utilizada: 200 mg por via vaginal ao deitar.
✅ 2. Cerclagem uterina
- Indicada em gestantes com história prévia de parto prematuro e colo ≤ 25 mm antes de 24 semanas.
- Procedimento cirúrgico simples, realizado por via vaginal, com colocação de um ponto no colo para mantê-lo fechado até o termo.
✅ 3. Pessário cervical (uso ainda controverso)
- Ainda em estudo. Algumas evidências mostram benefício, principalmente em gestações únicas com colo curto, mas os dados são menos robustos que para a progesterona e a cerclagem.
E na gestação gemelar?
Em gestações gemelares, o risco de prematuridade é naturalmente mais alto. Quando o colo está curto (<25 mm), a progesterona vaginal não tem benefício comprovado, e a cerclagem também não é indicada rotineiramente. Por isso, o acompanhamento deve ser ainda mais individualizado e vigilante.
Como é o cuidado no Instituto Nascer para gestantes com colo curto?
Aqui no Instituto Nascer, seguimos um modelo de cuidado baseado em evidências e centrado na mulher. Nosso protocolo multiprofissional para gestantes com colo curto inclui:
- Avaliação criteriosa da história obstétrica
- Realização do ultrassom transvaginal no momento oportuno
- Discussão individualizada sobre opções de prevenção
- Acompanhamento de perto pela equipe de obstetras, enfermeiras e especialistas em gestação de alto risco
- Apoio psicológico e emocional para as famílias, com foco no vínculo e na tranquilidade
Conclusão
O colo curto é uma condição que merece atenção, mas que pode ser bem manejada com diagnóstico precoce e intervenções eficazes. A boa notícia é que a medicina baseada em evidências oferece estratégias seguras e eficazes para reduzir o risco de parto prematuro — especialmente quando o cuidado é multiprofissional, individualizado e acolhedor.
Se você está grávida ou planejando engravidar e quer saber mais sobre esse tema, nossa equipe está à disposição para te orientar com carinho, respeito e ciência.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes científicas e diretrizes utilizadas:
- ACOG Practice Bulletin No. 234. Prediction and Prevention of Preterm Birth. Obstet Gynecol. 2021.
- SMFM Consult Series No. 47: The Role of Cervical Length Screening. Am J Obstet Gynecol. 2020.
- RCOG Green-top Guideline No. 60. Cervical Cerclage. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. 2022.
- NICE Guideline [NG25] – Preterm labour and birth. National Institute for Health and Care Excellence. 2022.
- Romero R et al. Vaginal progesterone in women with a short cervix: an updated meta-analysis. Ultrasound Obstet Gynecol. 2016.