Instituto Nascer

Hospital nursery. Parents of newborn babies and hospital staff observe newborn babies in a hospital nursery. The babies are wrapped in blankets and are lying in warm cots.

Por que bebês saudáveis não devem ir para o berçário?

Durante décadas, o modelo de cuidado ao recém-nascido nas maternidades brasileiras, especialmente na rede privada, foi marcado por uma prática institucionalizada e pouco questionada: a separação rotineira de bebês saudáveis de suas mães logo após o nascimento. O destino habitual desses recém-nascidos era o berçário — um espaço aparentemente seguro, com vitrine e iluminação suave, mas profundamente dissociado da fisiologia do nascimento e das evidências científicas.

No final dos anos 2000, participei ativamente das discussões e lutas para abolir o berçário de bebês saudáveis nas maternidades privadas de Belo Horizonte. Essa mudança não foi fácil, mas foi fundamental para a transformação do modelo de cuidado ao nascimento. Hoje, sabemos com clareza: bebês saudáveis não devem ser separados de suas mães após o nascimento.

O que dizem as evidências?

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o UNICEF, a Academy of Breastfeeding Medicine (ABM), o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e outras entidades internacionais de referência recomendam, de forma clara, que mãe e bebê permaneçam juntos desde o nascimento, em sistema de alojamento conjunto 24 horas por dia.

Essa recomendação baseia-se em diversos estudos e revisões sistemáticas que mostram que a separação rotineira de binômios saudáveis é prejudicial e desnecessária, e que o alojamento conjunto traz múltiplos benefícios.

Benefícios do alojamento conjunto

1. Fortalecimento do vínculo afetivo

O contato precoce e contínuo entre mãe e bebê favorece a liberação de ocitocina, hormônio chave na formação do vínculo, na descida do leite e na estabilidade emocional da díade. O bebê reconhece o cheiro, a voz e o calor da mãe — e é ali, no colo, que ele se sente seguro.

2. Melhora do aleitamento materno

Diversos estudos mostram que o alojamento conjunto aumenta significativamente as taxas de aleitamento materno exclusivo, tanto no hospital quanto após a alta. O acesso irrestrito ao bebê facilita a amamentação em livre demanda e a percepção precoce dos sinais de fome.

Revisão Cochrane (2021) concluiu que o alojamento conjunto está associado a maior duração e sucesso da amamentação exclusiva, em comparação com a separação e uso de berçários.

3. Estabilidade fisiológica do recém-nascido

O contato com a mãe ajuda a estabilizar a temperatura corporal, a frequência cardíaca, a respiração e os níveis de glicose do bebê. O toque, a pele e o som da mãe têm efeito regulador natural, evitando intervenções desnecessárias.

4. Prevenção de infecções hospitalares

O berçário coletivo é um ambiente de maior risco para infecções nosocomiais (infecções adquiridas no hospital), especialmente por micro-organismos multirresistentes. Manter o bebê com a mãe reduz esse risco consideravelmente.

5. Apoio à parentalidade

Os pais que convivem com o bebê desde o início aprendem, com o apoio da equipe, a identificar suas necessidades, manejar o choro, trocar fraldas e interpretar seus sinais. Isso fortalece o sentimento de competência parental e reduz a ansiedade no retorno para casa.

Mas e quando o berçário é necessário?

O berçário deve ser um recurso eventual e não rotineiro. Pode ser necessário em situações específicas, como:

  • Prematuridade ou intercorrências neonatais;
  • Condições clínicas maternas que impeçam o cuidado imediato (ex.: anestesia geral);
  • Necessidade de observação ou fototerapia.

Mesmo nesses casos, deve-se buscar minimizar o tempo de separação e favorecer o retorno precoce ao alojamento conjunto, sempre que possível.

Um avanço histórico em Belo Horizonte

A abolição do berçário de bebês saudáveis nas maternidades privadas de Belo Horizonte foi um marco. Estivemos presentes nessa construção coletiva, junto a profissionais obstetras, pediatras, enfermeiros e famílias que questionavam um modelo desumanizado e fragmentado de cuidado.

Essa mudança foi contracultural — em um Brasil com alta taxa de cesarianas e institucionalização do parto, defender o contato pele a pele imediato, o bebê no colo da mãe, a amamentação na primeira hora de vida e o quarto conjunto parecia ousado.

Hoje, é evidência consolidada.

Humanizar é cuidar com base em ciência, afeto e respeito

No Instituto Nascer, essa prática está no nosso DNA. Acreditamos profundamente que o nascimento é um evento fisiológico, afetivo e transformador, e que os bebês saudáveis devem ser cuidados pelas mãos e pelo colo de quem os ama — seus pais.

Separar sem necessidade é desnecessário. É anti-fisiológico. E, principalmente, é injustificável à luz da ciência moderna.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes:

  • World Health Organization & UNICEF. Implementation guidance: protecting, promoting and supporting breastfeeding in facilities providing maternity and newborn services (2018)
  • Jaafar SH et al. Rooming-in for new mother and infant versus separate care for increasing the duration of breastfeeding. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2021.
  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Breastfeeding challenges (Committee Opinion No. 761, 2018)
  • Academy of Breastfeeding Medicine. Clinical Protocol #5: Peripartum Breastfeeding Management for the Healthy Mother and Infant at Term.
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Manual de Prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (2022)

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