Instituto Nascer

Amniotomia

O médico pode romper sua bolsa amniótica? Entenda o que é Amniotomia e quando ela realmente é indicada!

A amniotomia, também conhecida como rompimento artificial da bolsa amniótica, é um procedimento em que o profissional de saúde rompe intencionalmente as membranas amnióticas durante o trabalho de parto, com o objetivo de acelerar sua evolução ou permitir intervenções específicas. É uma prática comum nas maternidades, mas que deve ser cuidadosamente indicada, pois, como qualquer intervenção, carrega riscos e benefícios.

O que é a amniotomia e para que serve?

Durante a gestação, o bebê está envolto em um saco amniótico cheio de líquido, que protege o feto contra traumas e infecções, além de permitir sua movimentação e desenvolvimento adequado. A amniotomia é realizada com um instrumento estéril, geralmente durante o exame de toque, e tem como propósito:

  • Acelerar o trabalho de parto em determinadas situações;
  • Permitir a avaliação do líquido amniótico (cor, presença de mecônio, odor);
  • Aumentar a eficácia das contrações, especialmente em combinação com ocitocina;
  • Facilitar a aplicação de dispositivos como o eletrodo de scalp fetal (quando indicado).

Quando pode ser necessário romper a bolsa?

De acordo com diretrizes da NICE, ACOG e OMS, a amniotomia pode ser considerada em alguns contextos específicos:

  • Trabalho de parto estabelecido com evolução lenta, após avaliação criteriosa;
  • Indução do parto, como parte do protocolo em gestações a termo, após preparo cervical;
  • Monitorização fetal interna, quando há necessidade clínica real e o colo está dilatado o suficiente.

Importante destacar que a amniotomia não deve ser realizada rotineiramente, nem antes de o colo apresentar dilatação e apagamento compatíveis com a fase ativa do trabalho de parto.

Quais são os benefícios da amniotomia?

Em contextos bem indicados, a amniotomia pode:

  • Reduzir levemente o tempo total de parto em algumas mulheres;
  • Aumentar a frequência e intensidade das contrações (quando há hipotonia);
  • Viabilizar o uso de métodos específicos de avaliação do bem-estar fetal.

Contudo, estudos e revisões sistemáticas da Cochrane mostram que o benefício em reduzir o tempo de parto é modesto, e não há evidência clara de redução nas taxas de cesariana ou melhora nos desfechos neonatais quando usada de forma rotineira.

Quais são os riscos da amniotomia?

Mesmo sendo um procedimento simples, a amniotomia não é isenta de riscos, principalmente quando realizada precocemente ou sem indicação clara. Os principais riscos incluem:

  • Prolapso do cordão umbilical, uma emergência obstétrica grave, especialmente se a apresentação fetal não está bem encaixada;
  • Infecções intrauterinas, como corioamnionite, especialmente quando há longo intervalo entre a ruptura e o nascimento;
  • Alterações na frequência cardíaca fetal, em decorrência da compressão do cordão;
  • Redução na mobilidade fetal e aumento da dor materna pela intensificação das contrações.

Amniotomia de rotina: uma prática banalizada no Brasil

No Brasil, infelizmente, a amniotomia foi banalizada nas últimas décadas. Por muito tempo, ela foi ensinada e praticada como parte rotineira do manejo do parto, mesmo sem indicação clínica precisa. Eu mesmo aprendi, no início dos anos 2000, a romper a bolsa em todos os partos. Mas com o avanço do conhecimento científico e da obstetrícia baseada em evidências, ficou claro que menos é mais: a ruptura artificial das membranas deve ser reservada a casos selecionados, após discussão com a gestante e avaliação da equipe multiprofissional.

Promover um parto respeitoso, fisiológico e baseado em evidências implica reconhecer que o corpo da mulher sabe parir, e que as intervenções só devem ser feitas quando realmente necessárias. A amniotomia, como qualquer outro procedimento, não deve ser usada como rotina, mas sim como exceção bem indicada.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Referências científicas:

  • Cochrane Database of Systematic Reviews. Amniotomy for shortening spontaneous labour (Smyth et al., 2013).
  • NICE Guidelines – Intrapartum care: care of healthy women and their babies during childbirth
  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Approaches to limit intervention during labor and birth. Obstet Gynecol 2017.
  • World Health Organization. Intrapartum care for a positive childbirth experience, 2018.

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