Instituto Nascer

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Os principais erros que podem atrapalhar o seu parto (e até levar a uma cesariana desnecessária)

Quando pensamos em parto, muitas vezes o foco está no momento final: o nascimento do bebê. Mas a jornada até lá importa — e muito. Escolhas feitas durante a gestação, desinformação e a forma como o sistema de saúde atua podem impactar diretamente a via de parto e a experiência vivida pela mulher. No Brasil, onde mais de 55% dos partos são cesarianas, sendo a maioria sem indicação clínica real, é fundamental entender o que pode, de fato, atrapalhar um parto fisiológico e levar a intervenções desnecessárias.

A seguir, listamos os principais erros e armadilhas que podem dificultar ou até inviabilizar um parto normal, segundo as melhores e mais atuais evidências científicas:

1. Escolher o profissional errado para o tipo de parto que você deseja

Esse é, talvez, o erro mais comum. Muitas mulheres desejam um parto normal, mas escolhem um obstetra que não tem prática, filosofia ou estrutura para acompanhar partos vaginais, especialmente os fisiológicos.

🔎 Estudo do Inquérito Nascer no Brasil mostrou que a escolha do local e do profissional são os principais determinantes da via de parto no país — mais do que fatores clínicos.

➡️ O que fazer? Busque um profissional com prática em partos vaginais, taxas conhecidas de cesárea, e que trabalhe com uma equipe multiprofissional (enfermeira obstetra, doula, fisioterapeuta, nutricionista), alinhada com os princípios da medicina baseada em evidências e da humanização.

2. Acreditar que cesárea agendada é mais segura ou menos arriscada

Ainda é comum a crença de que agendar a cesariana garante “menos sofrimento” ou “mais controle”. No entanto, a literatura científica mostra que cesarianas eletivas antes do início espontâneo do trabalho de parto aumentam os riscos para o bebê (como desconforto respiratório e internação em UTI neonatal) e para a mulher (maior risco de hemorragias, infecções e complicações em futuras gestações).

🔎 Revisões da Cochrane e diretrizes da ACOG reforçam que o início espontâneo do trabalho de parto é um marcador importante da maturidade fetal.

3. Não se preparar emocionalmente e fisicamente para o parto

O parto não é apenas um evento físico. Ele envolve hormônios, emoções, confiança e um ambiente seguro. A ausência de preparo emocional pode aumentar o medo e a tensão, o que pode interferir na liberação da ocitocina — o hormônio-chave do parto.

➡️ O que fazer? Participe de grupos de gestantes, faça um plano de parto, busque informações baseadas em evidências e esteja cercada de uma equipe que respeite suas escolhas. Atividades físicas adequadas e acompanhamento psicológico também são fortes aliados.

4. Acreditar que intervenções rotineiras são inofensivas

Intervenções como amniotomia precoce (romper a bolsa sem necessidade), uso rotineiro de ocitocina sintética, restrição de movimentos, jejum prolongado e monitoramento contínuo sem indicação são práticas comuns em muitos hospitais — e podem aumentar o risco de cesariana.

🔎 Segundo a OMS e o NICE, essas intervenções devem ser utilizadas apenas quando há real indicação clínica. Quando feitas de forma rotineira, aumentam a cascata de intervenções e o risco de parto instrumental ou cesárea.

5. Subestimar a importância do ambiente do parto

Luz forte, excesso de pessoas, linguagem fria e clima hospitalar podem interferir negativamente no parto, inibindo a fisiologia hormonal e dificultando a progressão natural do trabalho de parto.

🔎 Estudos em neurofisiologia do parto mostram que a ocitocina, essencial para a contração uterina e vínculo, é sensível ao ambiente — e pode ser inibida por estresse, medo e desconforto.

➡️ O que fazer? Escolha um local que respeite a fisiologia do parto e permita liberdade de posição, presença de acompanhante, uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor e acolhimento emocional.

6. Acreditar que dor no parto é sofrimento e precisa ser eliminada a qualquer custo

A dor do parto é diferente da dor de uma doença. É uma dor com sentido, relacionada ao progresso do trabalho de parto e ativadora de mecanismos fisiológicos e hormonais essenciais. O problema não é a dor — é o abandono e a solidão. A falta de acolhimento torna a dor insuportável.

➡️ O que fazer? Em vez de anestesia precoce, opte por métodos de alívio da dor como banho quente, massagem, bola, rebozo, movimentação livre, apoio contínuo e, quando necessário, analgesia peridural em momento oportuno.

7. Ignorar sinais do corpo e confiar apenas em exames e protocolos

A hipermedicalização do parto fez com que muitas mulheres se desconectassem da sua intuição e dos sinais do próprio corpo. Um trabalho de parto não progride em linha reta e cada corpo tem seu ritmo.

➡️ O que fazer? Confie nos sinais do seu corpo, na sua capacidade de parir e em uma equipe que saiba respeitar os tempos do nascimento.

Conclusão: o parto não começa na sala de parto — ele começa nas escolhas que você faz desde o início da gestação.

No Instituto Nascer, acreditamos que parto humanizado é aquele que respeita a mulher, suas escolhas e sua fisiologia. Um cuidado baseado em ciência, mas também em empatia. Afinal, o parto é um evento da vida — não um procedimento médico.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes:

  • World Health Organization (WHO). Intrapartum care for a positive childbirth experience (2018).
  • National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Intrapartum care guidelines (2023).
  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Safe prevention of the primary cesarean delivery (Obstet Gynecol, 2014; reaffirmed 2019).
  • Gama AS et al. Nascer no Brasil: principais resultados e desfechos obstétricos. Cad. Saúde Pública, 2014.
  • Cochrane Database of Systematic Reviews. Continuous support for women during childbirth (2017).
  • Odent M. The Scientification of Love.

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