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Azia na Gravidez: Por que acontece e como cuidar com segurança

A azia é uma queixa muito comum na gestação, especialmente no segundo e terceiro trimestres. Estima-se que mais de 50% das gestantes apresentem esse desconforto em algum momento da gravidez. Apesar de ser uma condição benigna na maioria dos casos, ela pode impactar bastante a qualidade de vida, sono e bem-estar da mulher.

Neste texto, vamos entender o que é azia na gravidez, suas causas, possíveis riscos, cuidados preventivos e opções seguras de tratamento — tanto naturais quanto medicamentosas — sempre com base nas melhores evidências científicas.

O que é azia?

A azia é uma sensação de queimação ou ardência na região do estômago e esôfago, que muitas vezes sobe até a garganta. Está relacionada ao refluxo gastroesofágico, ou seja, ao retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago.

Quais são as causas da azia na gravidez?

Durante a gestação, vários fatores favorecem esse sintoma:

  1. Hormônio da gestação (progesterona): relaxa a musculatura lisa do corpo, incluindo o esfíncter inferior do esôfago, facilitando o refluxo.
  2. Crescimento uterino: o útero em crescimento desloca o estômago para cima, aumentando a pressão intra-abdominal e facilitando o retorno do ácido.
  3. Diminuição do esvaziamento gástrico: outro efeito da progesterona e também da motilidade reduzida do trato gastrointestinal.
  4. Alimentação mais lenta e fracionada: embora benéfica em muitos aspectos, pode favorecer a presença prolongada de alimentos no estômago.

Existem riscos associados à azia na gestação?

Na grande maioria dos casos, não há risco para o bebê. Porém, azia intensa e persistente pode levar a:

  • Redução do apetite, o que pode impactar o ganho de peso adequado.
  • Distúrbios do sono, especialmente quando ocorre ao deitar.
  • Desconforto emocional e interferência na qualidade de vida.

Além disso, em raros casos, a azia pode ser confundida com sinais de alerta, como:

  • Azia associada à dor abdominal e pressão alta, o que pode indicar pré-eclâmpsia grave ou síndrome HELLP.
  • Azia súbita, intensa e refratária ao tratamento pode sugerir complicações gástricas ou cardiovasculares (como dissecção de aorta ou síndrome coronariana aguda, embora extremamente raras em gestantes).

Como prevenir a azia na gravidez?

Pequenas mudanças no estilo de vida e na alimentação ajudam bastante:

  • Comer em pequenas quantidades, várias vezes ao dia.
  • Evitar deitar logo após as refeições (esperar pelo menos 1 a 2 horas).
  • Elevar a cabeceira da cama (cerca de 15 cm) para dormir.
  • Evitar alimentos gatilhos: frituras, café, chocolate, refrigerantes, cítricos e alimentos muito condimentados.
  • Evitar roupas apertadas na região abdominal.
  • Mastigar bem os alimentos e comer devagar.

Tratamentos naturais e comportamentais

  • Chá de gengibre (em pequenas quantidades): pode aliviar sintomas leves.
  • Hidratação adequada, com ingestão fracionada de líquidos ao longo do dia.
  • Alimentação rica em fibras, que ajuda no trânsito intestinal e reduz a distensão abdominal.
  • Uso de probióticos: algumas evidências emergentes sugerem benefícios na regulação da microbiota gastrointestinal, com possível impacto positivo no refluxo leve.

Quando e como usar medicamentos?

Quando as medidas não-medicamentosas falham e os sintomas interferem na qualidade de vida da gestante, pode-se considerar o uso de medicamentos, com cautela e sempre com orientação médica. As principais classes e suas evidências:

1. Antiácidos à base de hidróxido de alumínio e magnésio

  • São os mais usados.
  • Alívio sintomático rápido.
  • Devem ser usados longe do horário de outras medicações (como o sulfato ferroso).

2. Antagonistas H2 (como ranitidina e famotidina)

  • A famotidina é considerada mais segura atualmente.
  • Indicados em casos persistentes que não respondem a antiácidos.

3. Inibidores de bomba de prótons (IBPs), como omeprazol e pantoprazol

  • Considerados seguros na gestação conforme ACOG e NICE, mas usados com maior cautela.
  • Indicados em casos graves, refratários aos tratamentos anteriores.

Importante: O uso crônico de antiácidos à base de alumínio não é recomendado por risco de constipação e possível toxicidade em casos de uso prolongado.

Quando a azia pode ser um sinal de preocupação?

Embora rara, a azia pode ser sinal de alerta quando associada a:

  • Pressão alta (≥140/90) e dor epigástrica intensa, especialmente no terceiro trimestre → pode indicar pré-eclâmpsia grave.
  • Dor torácica, sudorese e dispneia → avaliar causas cardíacas.
  • Vômitos persistentes e dor abdominal intensa → pensar em outras causas gástricas ou pancreáticas.

Nestes casos, é fundamental uma avaliação médica imediata.

Conclusão

A azia na gravidez é uma queixa comum, geralmente benigna e tratável. A escuta atenta, as orientações baseadas em evidências e a valorização dos sintomas relatados pela mulher são fundamentais para que ela tenha uma experiência mais confortável e segura. Sempre que houver dúvida, especialmente diante de sintomas persistentes ou associados a outros sinais, o acompanhamento profissional é essencial.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes científicas:

  • ACOG Practice Bulletin No. 189. Nausea and Vomiting of Pregnancy. Obstet Gynecol. 2018.
  • NICE. Gastro-oesophageal reflux disease: recognition, diagnosis and management. 2019.
  • Cochrane Database of Systematic Reviews. Interventions for heartburn in pregnancy.
  • UpToDate. Gastroesophageal reflux and GERD in pregnancy.
  • RCOG. Clinical guidelines and green-top guidelines for gastrointestinal disorders in pregnancy.

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