A cerclagem uterina é uma intervenção delicada e de alto impacto na prevenção do parto prematuro em mulheres com insuficiência istmocervical (IIC) ou colo curto com história anterior de parto prematuro precoce. Trata-se de um ponto no colo do útero, com o objetivo de mantê-lo fechado até que o bebê esteja pronto para nascer. Podendo ser realizado durante a gestação (via endovaginal), ou antes da gestação em casos selecionados (via abdominal).
Apesar de parecer uma intervenção simples, a cerclagem exige experiência, precisão técnica e indicação correta. E aqui está um ponto essencial: o sucesso da cerclagem depende muito da experiência do profissional que a realiza.
Por que a experiência importa?
Diversos estudos mostram que os melhores resultados da cerclagem estão associados a três fatores principais:
- Indicação correta – a cerclagem só deve ser feita quando realmente necessária.
- Momento adequado – nem muito cedo, nem tarde demais.
- Execução precisa – a técnica utilizada e a habilidade do profissional fazem diferença.
Ou seja, não basta “fazer uma cerclagem”. É preciso que seja feita pela pessoa certa, na situação certa, do jeito certo.
Pouca prática pode significar mais riscos
No setor privado no Brasil, é comum que muitos obstetras façam apenas duas ou três cerclagens por ano. Com um volume tão baixo, é mais difícil adquirir experiência suficiente para lidar com situações desafiadoras — como um colo muito curto, membranas já exteriorizadas ou a necessidade de cerclagem de emergência.
Evidências da ACOG, RCOG e revisões sistemáticas da Cochrane reforçam que a curva de aprendizado da cerclagem se estabiliza apenas após um número consistente de procedimentos. Ou seja: quanto mais casos acompanhados e executados, maior a segurança para a mãe e para o bebê.
A realidade em centros de referência
Em serviços especializados, como o Instituto Nascer, a realidade é diferente. Nossa equipe de Alto Risco realiza dezenas de cerclagens todos os anos, tanto no setor privado quanto no público, onde o volume de pacientes submetidas a cerclagem uterina é maior.
Esse acúmulo de experiência proporciona:
- Menor taxa de complicações (como rotura de membranas e infecção).
- Maior taxa de prolongamento da gestação.
- Mais segurança em situações complexas, como cerclagens de resgate.
- Abordagem multiprofissional, que inclui não apenas o ato cirúrgico, mas também o cuidado antes e depois do procedimento.
Nem excesso, nem carência
É importante lembrar: a cerclagem não deve ser banalizada. Se feita sem indicação, pode trazer riscos desnecessários. Por outro lado, a falta de acesso à cerclagem em casos que realmente precisam pode ser devastadora, levando a perdas gestacionais evitáveis.
O segredo está no uso racional e baseado em evidências. E parte disso inclui escolher um profissional ou uma equipe com experiência comprovada no procedimento.
Escolher bem é cuidar bem
Na hora de considerar uma cerclagem, é importante que a gestante se pergunte:
- “Eu realmente preciso?”
- “Esse é o melhor momento?”
- “Quem vai realizar o procedimento tem experiência suficiente?”
No Instituto Nascer, acreditamos que cada decisão precisa ser tomada com ciência, clareza e acolhimento. Afinal, quando falamos de cerclagem, não é apenas um ponto no colo do útero — é uma ponte para dar tempo, segurança e vida ao bebê.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455 e Gabriel Martins Campos, Médico Especialista em Ultrassonografia e Coordenador do Setor de Ultrasson e Medicina Fetal do Instituto Nascer – CRM-MG 68318.
Fontes:
- ACOG Practice Bulletin No. 234: Prediction and Prevention of Preterm Birth. Obstet Gynecol. 2021.
- RCOG Green-top Guideline No. 75: Cervical Cerclage. 2022.
- NICE Guideline NG25: Preterm Labour and Birth. 2019.
- Cochrane Database of Systematic Reviews: Cervical stitch (cerclage) for preventing preterm birth. 2023.