Instituto Nascer

WhatsApp Image 2025-05-17 at 19.18.07

Cesariana a pedido: o que a ciência diz e como acolher essa decisão com ética e humanização

No Brasil, país com uma das maiores taxas de cesarianas do mundo, o tema “cesariana a pedido” é sensível e muitas vezes cercado de julgamentos. Em um cenário onde a maioria das mulheres sequer tem acesso ao direito de tentar um parto normal com analgesia e apoio humanizado, falar sobre cesariana a pedido pode parecer contraditório — ou até perigoso.

Mas será que é mesmo?

No Instituto Nascer, temos como compromisso oferecer cuidados baseados em evidências, respeito e escuta. Por isso, queremos abrir esse espaço para refletir com profundidade sobre o que significa uma cesariana a pedido — e o que as melhores diretrizes do mundo dizem sobre ela.

O que é “cesariana a pedido”?

É a cesariana realizada sem indicação médica formal, solicitada pela gestante após aconselhamento adequado. Ela não deve ser confundida com a cesariana eletiva marcada por conveniência do sistema de saúde ou imposta ao longo do pré-natal sem que a mulher tenha tido oportunidade de compreender os riscos e benefícios de cada via de nascimento.

Quando bem conduzida, a cesariana a pedido é uma decisão consciente, e não uma imposição disfarçada.

O que dizem as diretrizes internacionais?

1. ACOG (American College of Obstetricians and Gynecologists)
Reconhece que, embora o parto vaginal deva ser incentivado na ausência de contraindicações, a cesariana a pedido pode ser considerada eticamente aceitável, desde que a mulher seja plenamente informada dos riscos e benefícios comparativos de cada via de parto.
(ACOG Committee Opinion No. 761, 2019)

2. NICE (Reino Unido)
O guideline britânico afirma que mulheres com medo do parto vaginal devem receber aconselhamento psicológico, mas, se após o suporte adequado ainda optarem pela cesariana, essa decisão deve ser respeitada e realizada.
(NICE Guideline NG192, 2021)

3. Organização Mundial da Saúde (OMS)
A OMS reforça que o foco não deve ser aumentar ou reduzir cesarianas, mas sim garantir que cada mulher receba o tipo de parto mais adequado à sua situação, com base em informação, escolha e contexto clínico.
(WHO Statement on Caesarean Section Rates, 2015)

Riscos e benefícios: o que precisa ser discutido com clareza?

Cesariana planejada, quando feita com indicação adequada ou após aconselhamento bem conduzido, é segura para a grande maioria das mulheres. Porém, como todo procedimento, carrega riscos:

  • Maior chance de complicações em gestações futuras (como acretismo placentário e rotura uterina)
  • Recuperação pós-parto geralmente mais lenta
  • Maior risco de internação respiratória neonatal em cesáreas antes de 39 semanas

Por outro lado, há contextos em que a cesariana planejada pode reduzir riscos psicoemocionais reais, como em mulheres com traumas obstétricos prévios, medo intenso do parto ou experiências anteriores negativas — que não devem ser ignoradas.

E a humanização onde entra?

Humanização não é “parto normal a qualquer custo”.

É cuidado centrado na mulher, com escuta ativa, empatia, apoio multiprofissional e decisão compartilhada. Em alguns casos, o parto mais respeitoso será uma cesariana. E tudo bem.

O verdadeiro compromisso com a humanização é garantir que toda mulher se sinta segura, bem cuidada e protagonista da sua experiência de nascimento, seja qual for o desfecho.

Conclusão

O Brasil ainda precisa lutar contra o excesso de cesarianas desnecessárias. Mas também precisa aprender a acolher, com ética e humanidade, aquelas poucas cesarianas que nascem do desejo consciente de uma mulher informada — especialmente quando esse desejo vem de uma história de dor e insegurança.

No Instituto Nascer, seguimos firmes no compromisso com o parto normal baseado em evidências, mas com o coração e os ouvidos abertos para compreender cada história.

Porque o nascimento respeitoso não tem forma única — tem escuta, cuidado e amor.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes:

  • ACOG Committee Opinion No. 761 – Cesarean Delivery on Maternal Request (2019)
  • NICE Guideline NG192 – Intrapartum Care for Healthy Women and Babies (2021)
  • WHO Statement on Caesarean Section Rates (2015)
  • Cochrane Review (Planned cesarean vs planned vaginal birth) – Cochrane Database of Systematic Reviews, 2020
  • NIH Consensus Development Conference Statement – Cesarean Delivery on Maternal Request (2006)

Ainda não encontrou a informação que precisava?

Utilize a ferramenta de busca para encontrar o tema desejado.

Abrir bate-papo
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?