Equipe de parto: veja como montar seu time dos sonhos

Imagem: Adriana Costa Fotografia

Foi-se o tempo em que a assistência ao parto era centrada apenas no médico obstetra. Agora, doulas, enfermeiras obstetras e obstetrizes também entram em cena antes, durante e depois da chegada do bebê. Veja o que levar em conta para escolher os profissionais que acompanharão você nessa jornada.

Provavelmente, você deve conhecer alguém que, há décadas, nasceu em casa, com o apoio de uma parteira tradicional. Também sabe da história de quem, depois de tantos nascimentos nos domicílios, pôde vir ao mundo em um hospital, assistido por um médico. E, agora, acompanha amigas ou personalidades dando à luz ao lado de equipes formadas por médicos e parteiras, todos juntos e misturados, sem nenhuma cerimônia.

A experiência de parir já não é a mesma de tempos atrás. “Na história, o parto sempre foi tido como algo domiciliar, mas, a partir dos anos 70, foi para o hospital, passou a ser institucionalizado e totalmente centrado na figura do médico. Agora, estamos num momento de repensar esse cenário de novo”, afirma o ginecologista e obstetra Ricardo Porto Tedesco, membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo. “Nas últimas duas décadas, muita coisa mudou. Apesar de o obstetra ter um papel importante, principalmente em casos de complicações, começamos a entender que outros profissionias também podem contribuir para esse momento”, diz.

É aí que entram em cena outras especialidades, que atuam também na hora do nascimento do bebê, como enfermeiras obstetras, obstetrizes e doulas. Além de auxiliar o trabalho do médico, equipes multidisciplinares trazem conforto e tranquilidade para a mãe, para que tenha uma experiência mais acolhedora ao dar à luz. Uma revisão feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) analisou dados de 15.858 mulheres, de 17 países, e mostrou que o apoio contínuo de profissionais especializados ajuda a diminuir o uso de anestesia uso de anestesia e a reduzir, inclusive, o tempo do trabalho de parto.

Segundo Tedesco, esses resultados, no entanto, só são possíveis quando a equipe multidisciplinar trabalha em conjunto para garantir um momento aconchegante, tanto para a grávida, quanto para o bebê. “Todos são importantes e cada um tem seu papel. As funções se complementam, desde que se respeitem. Não deve existir uma ‘competição’ pelo parto entre os profissionais. Temos de entender que o protagonismo não é da equipe, mas, sim, da mulher”, diz.

Opção pessoal

Foi só na segunda gestação que a cirurgiã-dentista Juliane Teixeira, 37, descobriu que poderia contar com outros especialistas, além do médico, no acompanhamento do pré-natal e do parto. Quando engravidou da primeira filha, Helena, hoje com 3 anos, passou por todo o processo apenas com a supervisão da ginecologista com quem sempre se consultou. “No fim, acabei fazendo uma cesárea agendada, perto do Carnaval, e minha filha nasceu com 38 semanas. Foi frustrante porque ainda não era a hora – a médica fez o que era melhor para ela e não para mim e para o bebê”, lembra.

Imagem: Bruna Gil Fotografia

Pouco mais de um ano depois, Juliane engravidou de novo e, desta vez, decidiu que faria diferente. Pediu indicação para uma amiga e, desde o começo, fez sua preparação para o parto em centro especializado, em São Paulo (SP). Lá, todos os meses tinha consultas presenciais tanto com médicos quanto com enfermeiras obstetras. No parto, a equipe que já a acompanhava ainda foi incrementada com a presença de uma doula. “Por mais que eu já fosse mãe, era uma experiência totalmente nova para mim. Não me oporia a fazer uma nova cesárea, mas desde que tivesse indicação. No fim, a presença de todos foi importantíssima. Os espaços de cada um foram bem respeitados e me explicaram todos os passos, o que me trouxe uma tranquilidade muito grande.”

Juliane teve o privilégio de contar com, pelo menos, três especialistas diferentes (veja o papel de cada uma delas no boxe abaixo) na hora do parto, mas isso não significa que essa seja a fórmula a ser seguida por todas as mulheres. Definir quem são os profissionais que acompanharão você na hora H é uma decisão 100% pessoal. Enquanto para umas ter uma equipe composta por obstetra, doula e obstetriz, por exemplo, faz toda a diferença, para outras, talvez não seja tão prioritário assim. E vale lembrar que somente o obstetra já é capaz de oferecer para a futura mãe todo o suporte e confiança de que precisa. Tudo depende mesmo do perfil da futura mãe, do acolhimento que busca, do quanto está disposta a investir…

São muitos fatores para serem colocados na balança antes de tomar essa decisão. “Não existe uma receita de bolo. Cada mulher é única, e cada gestação é uma experiência. Por mais que busque informação e se inspire em histórias de outras mães, só a grávida sabe o melhor caminho e a melhor decisão dentro do que deseja para a gestação e para o parto dela”, explica a doula Tatiana Fávaro, especialista em Psicologia do Puerpério e especialista pessoal na Theia (SP).

Um bom ponto de partida é procurar, caso não tenha, um médico obstetra assim que descobrir a gravidez. O Conselho Federal de Medicina (CFM) exige que todo parto hospitalar, mesmo que de baixo risco, seja supervisionado por um médico. Por isso, ter um profissional de confiança acompanhando desde o pré-natal é fundamental. Além de fazer uma primeira avaliação de saúde, ele orienta e direciona para outros especialistas, se for o caso.

As novas parteiras

Nem todo mundo sabe, mas o médico não é o único que pode fazer as consultas e exames pré-natal. De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), as parteiras também podem assumir essa função e, inclusive, acompanhar todo o trabalho de parto, desde que a gravidez não seja de alto risco.

Quando falamos em parteiras, logo pensamos em mulheres que atuam longe das grandes cidades, em lugares de difícil acesso, e trazem saberes sobre o nascimento transmitidos há gerações. Sim, elas existem e fazem um trabalho importantíssimo, como já contamos em uma reportagem disponível no nosso site (glo.bo/3KWMl8i). Mas não é o caso desta vez. Aqui, falamos das “parteiras urbanas”, como são chamadas as enfermeiras obstetras e as obstetrizes. As duas têm formação universitária e respaldo do Conselho Federal de Enfermagem para atuar. A diferença é que a enfermeira obstetra é uma profissional graduada em Enfermagem e com especialização em obstetrícia, enquanto a obstetriz escolheu fazer o curso de Obstetrícia, oferecido atualmente apenas pela Universidade de São Paulo (USP).

Imagem: Adriana Costa Fotografia

Na prática, as duas têm a mesma autonomia e atuam da mesmíssima forma. “Nosso papel é saber todas as alterações que o organismo materno sofre na gestação e no trabalho de parto, para identificar quando algo foge do esperado e, aí sim, encaminhar para o médico. Mas também temos uma função muito importante de educação perinatal. Examinamos e tiramos as dúvidas, assim como o médico faz. A consulta, no entanto, acaba sendo mais longa, porque é focada no acolhimento e na troca de informação, para que a mulher se sinta segura ao tomar suas decisões”, explica  a enfermeira obstetra Thais Bernardo, da ComMadre (SP) e especialista em Saúde da Família. Já na hora H, essas profissionais podem ajudar a trazer bebês ao mundo, desde que o parto seja normal e de baixo risco, e haja um médico na sala fazendo acompanhamento (isso é exigido por lei).

Desde o ano passado, convênios e seguros de saúde são obrigados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a cobrir até oito consultas com parteiras durante o pré-natal e o puerpério. Desde 2015, mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde também tinham o direito de contar com esse serviço. Em abril, dias antes da publicação desta reportagem, o governo federal anunciou a criação da Rede Materna e Infantil (Rami), um programa de atendimento à gestante e puérpera que não contempla mais o atendimento de parteiras. Entidades de classe se posicionaram contra a mudança, e projetos legislativos para frear a iniciativa já foram apresentados ao Planalto. 

O papel de cada especialidade antes, durante e depois do parto

MÉDICO OBSTETRA

Antes: monitora a saúde da mãe e do feto, solicita exames de sangue e de imagem e explica questões relacionadas à gravidez e ao nascimento do bebê.

Durante: presta assistência ao parto normal de baixo e alto risco. Realiza intervenções cirúrgicas, como cesáreas, se necessário.

Depois: acompanha a evolução clínica da mãe e dá instruções sobre a retomada da rotina com o bebê em casa.

ENFERMEIRA OBSTETRA OU OBSTETRIZ

Antes: faz consultas pré-natais, pode solicitar exames, dá apoio emocional e tira dúvidas sobre gestação, parto e cuidados com o bebê.

Durante: tem autonomia para conduzir partos normais de baixo risco. Monitora os sinais vitais da mãe e do bebê e avalia a progressão do trabalho de parto. Mas, pela lei, é preciso ter um médico na sala de parto também.

Depois: faz o primeiro atendimento ao bebê e checa os sinais vitais. Orienta a mãe sobre os cuidados com o recém-nascido e a amamentação.

DOULA

Antes: ajuda a mulher a se preparar física e emocionalmente para parir. Orienta a família sobre os procedimentos comuns e a elaboração do plano de parto.

Durante: é quem dá suporte físico e emocional para a gestante. Auxilia a encontrar posições mais confortáveis, propõe medidas para alívio da dor, como banhos, massagens, técnicas de respiração…

Depois: pode fazer visitas à casa da família, oferecendo apoio emocional e tirando dúvidas sobre amamentação e cuidados com o bebê.

Presença de grande valor

Durante toda a sua primeira gravidez, do pequeno João, hoje com 3 anos, a gerente de banco Giliane Duarte, 37, nunca havia pensado na ideia de contar com uma parteira, até que recebeu a sugestão do seu próprio médico. “Contratei uma enfermeira obstetra e ela me acompanhou no trabalho de parto, me dando força, suporte e direcionamento técnico sobre como estava evoluindo. Na hora, eu estava com muita dor e confusa, mas ela me ajudou com o que eu precisava para realizar meu sonho, que era ter um parto normal sem analgesia”, diz. Grávida de novo, de 25 semanas, e morando em uma cidade nova, está à procura de uma outra profissional para repetir a experiência.

Ainda que as parteiras criem um vínculo mais próximo com as pacientes, como aconteceu com Giliane, elas não são as únicas capazes de oferecer esse apoio. Quando o assunto é orientação e acolhimento, inclusive, as doulas são referência. “Enquanto equipe técnica, nós temos protocolos internos e precisamos eventualmente nos ausentar para resolver papeladas e burocracias. Nessas horas, uma doula pode estar mais acessível e ajudar a reforçar esse suporte”, diz a obstetriz Fernanda Watari, do Coletivo Nascer e da Equipe Gaisa (SP).

Antes de se formar obstetriz e se tornar diretora do Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (SIAPARTO), Ana Cristina Duarte atuou como doula durante anos. Ela afirma que ainda que não tenham a função técnica de realizar procedimentos ou discutir condutas, as doulas são fundamentais na assistência da mulher ao atuarem como acompanhantes profissionais antes, durante e depois do parto. “O papel é estar junto, cuidar das necessidades emocionais e afetivas e trazer medidas de conforto.  Daí serem tão fundamentais”, afirma Ana Cristina.  

A doula é treinada, de fato, para oferecer apoio emocional e garantir que o ambiente esteja aconchegante, a mulher permaneça tranquila e o plano de parto seja seguido, dentro do possível – num processo “especializado de humanização”. “Ela dará o suporte que a mulher precisar no momento, mas não tem um papel técnico. Ainda que ajude a traduzir termos e fazer a ponte com o resto da equipe, a doula não pode se colocar entre médico e enfermeiro ou discutir qualquer tipo de conduta”, afirma a enfermeira obstetra Karina Fernandes Trevisan (SP), da ComMadre (SP). Segundo Ana Cristina, em um cenário ideal, as doulas deveriam participar de todos os contextos de parto, tanto no sistema público, quanto no privado. “Há evidências científicas de que a presença dessa profissional reduz a necessidade de cesarianas, de analgesia e de uso de fórceps. O acompanhamento dela é a ‘intervenção’ que mais ajuda a mulher nesse sentido”, afirma Ana Cristina. Para as interessadas em contar com uma doula, um aviso: não há um preço tabelado para o serviço de doulagem. Alguns hospitais e casas de parto do SUS oferecem o atendimento gratuitamente, mas ele ainda não é coberto e nem reembolsado pela maioria dos planos de convênios. Isso porque essa profissão ainda não é regulamentada e não exige formação universitária na área de saúde. Em março, um projeto de lei para mudar essa situação foi aprovado pelo Senado. O texto exige apenas que o profissional tenha um curso livre na área ou a comprovação de pelo menos cinco anos de atuação. Agora, o PL espera seguimento na Câmara.

A doula Tatiana Fávaro acredita que a falta de recursos para pagar a profissional não deve ser desculpa para que a gestante deixe de procurar informação. “É claro que um especialista é capaz de dar um direcionamento mais eficaz, mas, caso não possa contratar uma doula, pelo menos converse com uma mulher que já pariu da forma como você gostaria de parir. Ela pode te indicar caminhos e fazer às vezes de comadre, como nos partos domiciliares de antigamente.”

O mais importante, em todos os cenários, claro, é que a grávida sinta-se segura e confortável para dar à luz como esse momento especial merece, o que, aliás, pode ocorrer com a equipe tradicional do hospital também.

Time dos Sonhos

Como encontrar especialistas:

Indicações

Antes de marcar um primeiro encontro com os profissionais, cheque se amigos, familiares ou seu ginecologista de confiança têm recomendações para dar. É sempre bom ouvir a experiência de quem já testou o serviço antes.

Rede credenciada

Os seguros e convênios de saúde têm listas de médicos obstetras, enfermeiras obstetras e obstetrizes credenciados. Pode ser um bom primeiro
passo para começar a sua pesquisa.

Redes sociais

A internet e ferramentas de busca também podem ser ótimos aliados. Não se esqueça de checar se o profissional tem registro no Conselho Federal de Medicina, nos Conselhos Regionais de Enfermagem ou cursos de formação, no caso das doulas.

Grupos de mães

Conversar com outras mulheres na mesma situação também é um caminho. Participe de rodas de conversa, fóruns e grupos com outras gestantes e puérperas com quem você possa trocar figurinhas e ouvir experiências.

Imagem: Natalia Diniz Fotografia

O Instituto Nascer é pioneiro na assistência multiprofissional ao nascimento no setor privado de saúde em Belo Horizonte e no Brasil. Uma clínica focada na assistência integral e humanizada à mulher e a criança, fundada em 2013 e inspirada no modelo Europeu de cuidado com altas taxas de partos normais.

“Há quase 10 anos mantemos taxas de partos normais acima de 80% (2021 = 84,18%), e podemos afirmar que o trabalho em equipe transdiciplinar tem papel fundamental em nossos resultados”, afirma Hemmerson Magioni, Obstetra e Diretor Técnico e fundador do Instituto Nascer.

*Fonte: Portal globo.com / Crescer Online 11/06/22 / Site Instituto Nascer.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455.

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