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TENTANTES – Exame Anti-Mulleriano: Cuidado com a Interpretação

Nos últimos anos, o exame do hormônio anti-mulleriano (AMH) tem ganhado popularidade entre profissionais e casais que estão planejando uma gestação. Mas junto com sua disseminação, também surgiram exageros e interpretações equivocadas que podem gerar mais ansiedade do que clareza. Afinal, o que esse exame realmente mede? Ele é mesmo um “termômetro da fertilidade”? E quando ele está, de fato, indicado?

Vamos conversar com calma — e com ciência — sobre esse tema tão importante.

O que é o hormônio anti-mulleriano?

O hormônio anti-mulleriano (AMH) é uma substância produzida pelas células dos folículos ovarianos (pequenas estruturas que abrigam os óvulos). A dosagem desse hormônio no sangue tem sido utilizada como um marcador indireto da reserva ovariana, ou seja, uma estimativa da quantidade de óvulos ainda disponíveis nos ovários.

Vale reforçar: o AMH não avalia a qualidade dos óvulos — apenas a quantidade estimada de folículos antrais disponíveis naquele momento.

Para que serve esse exame?

A principal indicação do exame de AMH é em contextos específicos de avaliação da fertilidade, especialmente:

  • Mulheres com infertilidade de causa desconhecida;
  • Antes de tratamentos de reprodução assistida (como FIV), para planejamento de resposta ovariana à indução;
  • Mulheres com risco aumentado de diminuição da reserva ovariana (como histórico de cirurgia ovariana, quimioterapia, radioterapia ou doenças genéticas);
  • Avaliação de função ovariana em casos de suspeita de menopausa precoce.

Além disso, o AMH pode ser útil para diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP), pois tende a estar elevado nesse grupo.

Quando o exame não está indicado?

Segundo as diretrizes da American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), da ASRM e da NICE, o exame de AMH não deve ser solicitado rotineiramente para mulheres que estão apenas iniciando os planos de engravidar, sem histórico de infertilidade ou fatores de risco específicos.

Não é um exame para “prever a fertilidade futura”, nem um teste que diz se a mulher “consegue ou não engravidar”. Mulheres com níveis baixos de AMH ainda podem engravidar espontaneamente, e mulheres com níveis altos nem sempre terão facilidade de concepção.

Além disso, o AMH não substitui a idade materna como principal fator preditor da fertilidade. A idade da mulher continua sendo o indicador mais confiável da qualidade dos óvulos e da chance de gravidez.

Interpretações equivocadas: um risco real

Uma das consequências mais preocupantes do uso indiscriminado do exame é a interpretação fora de contexto. Um resultado “baixo” pode gerar pânico injustificado em mulheres jovens, enquanto um resultado “alto” pode gerar uma falsa sensação de segurança em mulheres mais velhas.

O AMH não prevê tempo até a menopausa, não deve ser usado isoladamente para decisões sobre congelamento de óvulos, nem deve guiar o início precoce de tratamentos de reprodução em mulheres sem infertilidade comprovada.

O excesso de solicitações no Brasil: precisamos conversar

Infelizmente, no Brasil, o exame de AMH vem sendo solicitado de forma cada vez mais frequente — e muitas vezes sem critério clínico ou orientação adequada. Em aplicativos de prescrição, grupos profissionais e até consultas de rotina, o AMH aparece como uma espécie de “check-up reprodutivo”, o que não é recomendado pelas principais sociedades científicas.

Esse excesso pode levar a decisões precipitadas, insegurança emocional, tratamentos desnecessários de medicina reprodutiva e até custos elevados para os casais. É fundamental que o exame só seja solicitado quando há real indicação clínica, sempre acompanhado de uma explicação cuidadosa sobre seus limites e significado.

Conclusão

O hormônio anti-mulleriano é uma ferramenta útil, mas que precisa ser usada com responsabilidade. Mais importante do que um número em um exame, é olhar para a história de vida da mulher, seu ciclo, sua idade, seus planos e, acima de tudo, acolher seus desejos com informação segura.

Fertilidade não se mede apenas com exames — ela se cuida com escuta, vínculo e ciência.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes:

  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Female Age-Related Fertility Decline. Practice Bulletin No. 781.
  • National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Fertility problems: assessment and treatment. Clinical guideline [CG156].
  • American Society for Reproductive Medicine (ASRM). Testing and interpreting measures of ovarian reserve: a committee opinion. Fertil Steril. 2015.
  • Cochrane Library. Ovarian reserve testing before IVF: review of evidence.

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