A importância histórica das vacinas
As vacinas são uma das maiores conquistas da medicina moderna. Estima-se que, ao longo do último século, elas tenham prevenido milhões de mortes e transformado a história da saúde pública. Graças à vacinação, doenças graves como a varíola foram erradicadas, e outras, como poliomielite, sarampo e rubéola, deixaram de ser causas comuns de mortalidade infantil. Em países como o Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, garantiu por décadas altas coberturas vacinais e reduziu de forma drástica a mortalidade infantil.
O que é hesitação vacinal?
A hesitação vacinal é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a recusa ou atraso em aceitar vacinas, mesmo quando elas estão disponíveis e acessíveis. Não se trata apenas de recusa absoluta: muitas vezes, é um comportamento intermediário, marcado pela dúvida, medo ou desconfiança.
Causas da hesitação vacinal
A hesitação é um fenômeno complexo, influenciado por diferentes fatores, que podem variar de acordo com o contexto cultural, social e até politico:
- Informação e desinformação: notícias falsas e teorias conspiratórias aumentaram muito durante a pandemia de COVID-19 e geraram insegurança em parte da população.
- Confiança: dúvidas sobre a segurança das vacinas, medo de efeitos adversos ou desconfiança nas instituições de saúde.
- Complacência: percepção de que certas doenças não representam risco real, levando famílias a adiar ou recusar a vacinação.
- Acesso e conveniência: em muitos casos, a não vacinação não é hesitação, mas dificuldade logística — horários, deslocamento, falhas na oferta local.
Quais os riscos e impactos da hesitação?
A hesitação vacinal tem consequências diretas para a saúde pública. Quando a cobertura vacinal cai abaixo do necessário para manter a imunidade coletiva, doenças antes controladas podem ressurgir. Foi o que aconteceu com o sarampo, que voltou a circular no Brasil após anos de eliminação.
Os riscos incluem:
- Aumento de surtos de doenças preveníveis (como sarampo, coqueluche e poliomielite).
- Maior mortalidade infantil e materna.
- Sobrecarga dos serviços de saúde, com aumento de hospitalizações.
- Retrocesso em décadas de conquistas da saúde pública.
Como combater a hesitação vacinal?
As evidências científicas apontam estratégias eficazes para reduzir a hesitação e aumentar a confiança nas vacinas:
- Escuta ativa e comunicação empática: profissionais de saúde devem acolher dúvidas sem julgamento, esclarecendo com linguagem simples e baseada em evidências.
- Combate à desinformação: campanhas públicas e educativas, uso de redes sociais e parcerias com líderes comunitários para difundir informações confiáveis.
- Facilitar o acesso: ampliar horários e locais de vacinação, integrar a vacinação a consultas de rotina e realizar busca ativa de faltosos.
- Profissional de saúde como agente central: a recomendação médica continua sendo o fator mais determinante para a decisão dos pais em vacinar seus filhos.
Recado do Instituto Nascer
No Instituto Nascer, acreditamos que a vacinação é um ato de cuidado, de amor e de responsabilidade coletiva. Proteger nossos filhos significa também proteger toda a comunidade. A hesitação vacinal não deve ser encarada como uma barreira intransponível, mas como um convite ao diálogo, à escuta e à construção de confiança.
Vacinar é escolher a vida. É escolher o ciência.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes
- World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: WHO; 2014.
- MacDonald NE. Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants. Vaccine. 2015;33(34):4161-4164.
- Larson HJ et al. Addressing the vaccine confidence gap. Lancet. 2011;378(9790):526-35.
- de Oliveira BLCA et al. Vaccination coverage in Brazil: trends and determinants. BMJ Global Health. 2021;6:e006013.
- Pan American Health Organization (PAHO). Immunization in the Americas: 50 years of progress. Washington, D.C.; 2023.
- Dubé E, et al. Strategies intended to address vaccine hesitancy: Review of published reviews. Vaccine. 2015;33(34):4191-203.