
A presente lista de indicações de cesariana circula na Internet desde 2005, quando eu publiquei a primeira versão em uma comunidade do Orkut (“Cesárea? Não, obrigada!”), e desde então tem sido muito divulgada, crescendo lamentavelmente a cada dia, porque estou sempre me deparando com gestantes em busca de informações, explicações ou mulheres que contam suas próprias histórias ou histórias de amigas. Outra fonte inesgotável de supostas indicações para a cirurgia cesariana advém dos encaminhamentos de gestantes para os serviços onde trabalho, por diversos profissionais de saúde, porque sempre há alguém querendo indicar uma cesariana. Muitos colegas também têm sido extremamente gentis em me informar quando recebem esses encaminhamentos, ou os famosos “bilhetinhos” ou quando se deparam em sua prática clínica diária com pretextos e indicações estapafúrdias de cesariana.
Não temos a pretensão de cobrir todas as possíveis indicações de cesariana, apenas começamos a elencar sobretudo as “não indicações” mais frequentes. Nem sempre foi possível fazer busca no PubMed porque simplesmente não existem os descritores para algumas situações absurdas, mas para pesquisa científica procuramos tanto no Medline, no Scopus e na Biblioteca Cochrane revisar a literatura pertinente para checar a indicação ou, mais frequentemente, a falta dela.
Vocês podem confirmar digitando os descritores (MESH) ou as palavras descrevendo a suposta indicação e acrescentar AND “Cesarean Section”[Mesh] no PubMed:
Pesquisando sobre indicações de cesárea no PubMed
Para uma leitura mais aprofundada e baseada em evidências, eu recomendo a série de artigos que publicamos na revista Femina, “Indicações de Cesariana Baseadas em Evidências”, em três partes:
Parte 1 Indicações de Cesariana Baseadas em Evidências – Parte I
Parte 2 IIndicações de Cesariana Baseadas em Evidências – Parte II
Parte 3 Condições frequentemente associadas à cesariana, sem respaldo científico
Consultamos as diversas diretrizes de operação cesariana, principalmente a do NICE, as recomendações do Consortium on Safe Labor e do ACOG para prevenção da primeira cesariana.
Em 2016 foi publicada no Brasil a Diretriz para Operação Cesariana elaborada pelo Ministério da Saúde em parceria com diversas instituições: CFM, Febrasgo, AMB, Abenfo, representantes das usuárias e especialistas. Essa diretriz pode ser encontrada no link Diretrizes Cesariana, também recomendamos sua consulta.
Segue a lista (em constante atualização):
INDICAÇÕES REAIS E FICTÍCIAS PARA A CESÁREA
Indicações REAIS:
1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa) – durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão cefálica externa);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ATIVA no momento em que se inicia o trabalho de parto (em algumas diretrizes, somente se for a primoinfecção herpética). A profilaxia a partir de 36 semanas com aciclovir (400mg 3 vezes ao dia) é recomendada para reduzir o risco de lesão herpética durante o trabalho de parto nas gestantes com história de herpes genital.
Indicações que PODEM ACONTECER, mas que frequentemente são diagnosticadas de forma equivocada:
1) Desproporção cefalopélvica (DCP): o diagnóstico só é possível intraparto e não pode ser antecipado durante a gravidez. Em 1934 um obstetra (Barbour) já dizia que “o melhor pelvímetro é a cabeça fetal”, e é avaliando a progressão da cabeça fetal através do canal de parto na presença de contrações eficientes que pode ser aventada a suspeita de DCP;
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é “frequência cardíaca fetal não-tranquilizadora”, exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal); as diretrizes atualizadas da FIGO sobre monitorização fetal intraparto podem ser consultadas por quem deseja se aprofundar sobre o assunto;
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia): recentemente tanto autores como diretrizes concordam que os critérios devem ser mais elásticos. O próprio uso de ocitocina e a amniotomia não têm efetividade comprovada quando comparados com a conduta expectante; recomendamos consultar as diretrizes da OMS sobre condução do trabalho de parto.
Pela grande variação do que é fisiológico, considera-se que não é necessário intervir para apressar um parto, independente de sua duração, quando mãe e bebê estão bem.
Nota: o uso do partograma de Friedman é altamente questionável. A evolução do trabalho de parto tem grande variação, recomendando-se atualmente considerar como parâmetro outras curvas, como as curvas de Zhang (2010) descrevendo a evolução normal do trabalho de parto em percentis, considerando a paridade. O partograma deve ser preenchido sem linhas de alerta e de ação, conforme recomendação da OMS. Outras curvas em outras populações estão sendo estudadas.
Situações especiais onde a conduta deve ser individualizada, considerando as peculiaridades de cada caso e as expectativas das gestantes, após informação:
1) Apresentação pélvica (recomenda-se oferecer versão cefálica externa depois de 36 semanas mas se não for bem sucedida ou não for aceita pela gestante, discutir riscos e benefícios: o parto pélvico só deve ser tentado com equipe experiente e se for essa a decisão da gestante);
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – variando de 0,5% – 1,5% – deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical, lesão intestinal, até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia); as diretrizes mais recentes não discriminam entre uma ou duas cesáreas para quem quer tentar um VBAC (Vaginal Birth After Cesarean = Parto Vaginal Após Cesárea);
3) HIV/Aids (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos.
Algumas desculpas referidas pelas gestantes e/ou utilizadas pelos profissionais para indicar uma “DESNEcesárea” (em ordem alfabética):
1. | Aceleração dos batimentos fetais |
2. | Acidente Vascular Cerebral (AVC) prévio |
3. | Adolescência |
4. | Alergia a múltiplos fármacos |
5. | Alergia à placenta |
6. | Altura do fundo uterino pequena para idade gestacional |
7. | Ameaça de chuva/temporal na cidade |
8. | Ameaça de parto prematuro (?) |
9. | Anemia de qualquer tipo (entendam, gestantes, a cesariana vai agravar a anemia, uma vez que a perda sanguínea é cerca de 500ml no parto normal e 1.000ml na cesariana) |
10. | Anemia falciforme |
11. | Anemia ferropriva |
12. | Anencefalia |
13. | Aniversário da gestante ou de qualquer parente próximo (para fazer coincidir a data do nascimento) |
14. | Ansiedade materna |
15. | Anticoagulação (uso de warfarin que já deveria estar suspenso a termo, uso de heparina de baixo peso molecular, uso de heparina convencional) |
16. | Artéria subclávia direita aberrante |
17. | Artéria umbilical única |
18. | Asma |
19. | Assalto ou outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o bebê pode ficar estressado) |
20. | Autismo (e qualquer forma de capacitismo por entender que a mulher não tem capacidade de se comunicar) |
21. | Bacia “muito estreita” |
22. | Bacia androide (“de homem” |
23. | Baixa estatura materna |
24. | Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso |
25. | Barriga “alta demais” |
26. | “Barrigão” – você viu a barriga dela? Sem condições para o parto normal |
27. | Barriga “sarada”, porque a musculatura pode prejudicar o trabalho de parto |
28. | Bartolinite |
29. | Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto |
30. | Bebê “grande demais” (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4 ou 4,5kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal). |
31. | Bebê “pequeno demais” |
32. | Bebê abraçado ao estômago materno |
33. | Bebê cabeludo |
34. | Bebê desocupado: está tudo pronto (tamanho e peso) e ele não vai ganhar mais nada ficando lá dentro |
35. | Bebê do sexo feminino: “mulher dá trabalho para tudo, até para nascer” ou “mulher dá trabalho para sair” |
36. | Bebê engolindo o líquido amniótico |
37. | Bebê estava há muito tempo na mesma posição dentro da barriga |
38. | Bebê flagrado apertando o cordão durante a ultrassonografia, o que aparentemente levou a bradicardia |
39. | Bebê preguiçoso (não mexe muito) |
40. | Bebê profundamente encaixado |
41. | Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto |
42. | Bebês nordestinos têm cabeça grande |
43. | Bexiga próxima do útero |
44. | Bilhete ou telefonema do prefeito/secretário de saúde de município próximo – Bilhete de qualquer político |
45. | Bipolaridade |
46. | Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe) |
47. | Cabeça do bebê vai deformar de encontro com as costelas (bebês em apresentação pélvica), então é preciso marcar logo a cesárea |
48. | Calcificação da sínfise púbica (alegando-se que ocorreria em TODAS as mulheres com mais de 35 anos, impedindo o parto normal) |
49. | Cálculo renal (nefrolitíase) |
50. | Candidíase |
51. | Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas, salvo raríssimas exceções, é o vaginal) |
52. | Cegueira materna |
53. | Ceratocone |
54. | Cesárea anterior (1 ou mais cesáreas) – evidências sugerem que riscos e benefícios são semelhantes, embora a taxa de ruptura possa aumentar com o aumento do número de cesarianas, também há riscos aumentados com uma cesariana depois de várias cesarianas. |
55. | Cesárea anterior com desfecho ruim (bebê foi para UTI) |
56. | Chikungunya |
57. | Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma |
58. | Circlagem cervical |
59. | Circular de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso) |
60. | Cirurgia de reversão de laqueadura |
61. | Cirurgia sobre a coluna vertebral |
62. | Cirurgia gastrointestinal prévia |
63. | Cirurgia na orelha, anterior ao parto, estouraria o tímpano |
64. | Cóccix para dentro |
65. | Colestase gravídica |
66. | Coleta de sangue do cordão umbilical para congelamento e preservação de células-tronco |
67. | Cólica renal |
68. | Colo grosso, colo posterior, colo duro, colo alto e (paradoxalmente) colo curto.Variante: o colo grosso vai machucar a cabeça do bebê |
69. | Colostomia (sim, porque é melhor fazer uma incisão abdominal perto do estoma com fezes do que um parto normal bem distante da área…) |
70. | Comida estragada (relato de consumo) |
71. | Compromissos previamente assumidos pelo profissional por volta da data provável do parto |
72. | Condilomas (verrugas genitais) (condiloma só indica cesárea em caso de tumoração gigante obstruindo o canal de parto, eventualidade raríssima) |
73. | Conização prévia do colo uterino (cone frio ou cirurgia de alta frequência – CAF) |
74. | Constipação (prisão de ventre) |
75. | Convulsão febril na infância |
76. | Cordão curto (impossível a mensuração antes do nascimento) |
77. | COVID-19: esta é bem recente, mas temos que distinguir algumas situações. COVID-19 per se não é indicação de cesárea. Casos leves, oligossintomáticos, em geral durante o trabalho de parto podem ter parto normal, vigiando FR e SatO2. Pode haver indicação de abreviar período expulsivo de há exaustação materna ou queda da saturação. Ocasionalmente, a mulher com COVID-19 pode dessaturar ainda no primeiro estágio e isso pode indicar a cesariana. Nos casos graves, é frequente haver indicação de cesariana na tentativa de promover a melhora da ventilação e de salvar a vida do concepto (quando viável). |
78. | COVID-19 (história pregressa) com desenvolvimento posterior normal da gravidez |
79. | Criança chupando dedo na barriga (“risco de quebrar o braço durante o parto) |
80. | Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do obstetra) |
81. | Depressão – ou história de depressão – ou uso de antidepressivos |
82. | Diabetes mellitus clínico ou gestacional |
83. | Diástase abdominal |
84. | Disfunção da sínfise púbica |
85. | Distocia uterina (não definida) |
86. | Doença de Chron |
87. | Dor na bexiga/ Dor na sínfise púbica / Dor no ciático / Dor em qualquer lugar (porque a gestante não vai aguentar mais dor) |
88. | Dorso à direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar |
89. | Duas placentas (gestação gemelar) |
90. | DUM indeterminada |
91. | Edema de colo do útero |
92. | Edema de membros inferiores/edema generalizado |
93. | Eletrocauterização prévia do colo uterino |
94. | Êmese / HIperêmese gravídica |
95. | Endometriose em qualquer grau e localização |
96. | Enxaqueca materna |
97. | Epilepsia e uso de qualquer droga antiepiléptica |
98. | Episiotomia em parto anterior |
99. | Escoliose |
100. | Espondilite anquilosante – Qualquer espondiloartropatia |
101. | Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal entre 35-37 semanas |
102. | Evolução tornou o corpo feminino incompatível com o parto |
103. | Exérese prévia de pólipos intestinais por colonoscopia |
104. | Face defletida fora de trabalho de parto |
105. | Falta de ar da gestante porque o bebê era grande |
106. | Falta de dilatação antes do trabalho de parto |
107. | Falta de prática de Pilates durante a gravidez |
108. | Falta de resposta ao teste da buzina no consultório (sem nenhum outro exame complementar) |
109. | Falta de vagas nos hospitais para parto normal se a gestante não marcar a cesárea |
110. | Fenda de Pettersen |
111. | Feto com “unhas compridas” (com explicações as mais diversas, dentre as quais arranhar a bolsa das águas) |
112. | Feto morto |
113. | Fibromialgia |
114. | Fratura de cóccix em algum momento da vida |
115. | Frio |
116. | Gastrosquise |
117. | Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come) |
118. | Gengivite |
119. | Gestação gemelar com os dois conceptos, ou o primeiro, em apresentação cefálica |
120. | Gestante lésbica (não vai “se abrir” para o parto) |
121. | Gestante loura |
122. | Gestante saudável demais, correndo o risco de ter um parto fácil e muito rápido, podendo parir antes de chegar ao hospital, com risco de morte do bebê |
123. | Gestante transexual |
124. | Glaucoma |
125. | “Golf Ball” presente na ultrassonografia morfológica – sem qualquer significado patológico |
126. | Gordura na bacia |
127. | Gravidez muito desejada |
128. | Gravidez não planejada |
129. | Gravidez prolongada |
130. | Grumos no líquido amniótico |
131. | Hemorroidas |
132. | Hepatite B e Hepatite C |
133. | Hérnia de disco, operada ou não, em qualquer segmento da coluna vertebral |
134. | História de Hemorragia Pós-parto na gravidez anterior (absurdo dos absurdos, uma vez que cesariana aumenta o risco de hemorragia pós-parto) |
135. | Hérnia inguinal, hérnia incisional e hérnia umbilical |
136. | Hidronefrose fetal |
137. | Hiperprolactinemia |
138. | Hipertireoidismo |
139. | Hipotireoidismo |
140. | História de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez |
141. | História de cesárea na família |
142. | História de depressão pós-parto |
143. | História de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior |
144. | História de trombose venosa profunda |
145. | História familiar de fibrose cística do pâncreas |
146. | HPV com ou sem Lesão Intraepitelial Cervical |
147. | Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos, mas também pode ser mais de 40 anos. Há pouco tempo uma fisioterapeuta que faz parte de nossa equipe foi considerada “idosa” aos 32 anos por um plantonista de certa maternidade que não me convém indicar…) |
148. | Incisura nas artérias uterinas (pesquisada inutilmente, uma vez que não se deve realizar Doplervelocimetria com essa finalidade em uma gravidez normal) |
149. | Incompatibilidade Rh |
150. | Incontinência urinária de esforço ou estar fazendo muito xixi no final da gravidez (quase 100% das gestantes) |
151. | Indução impossível por falta de cardiotocógrafo no hospital |
152. | Infecção urinária |
153. | Inseminação artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de que bebês “superdesejados” teriam melhor prognóstico com a cesárea) – motivo pelo qual esses bebês aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal |
154. | Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada dos pontos da circlagem) |
155. | Insuficiência Renal Aguda ou Crônica |
156. | Jogo do Atlético x Cruzeiro (mas pode substituir por Flamengo x Fluminense, Grêmio x Internacional ou qualquer clássico de sua cidade), afetando o tráfego urbano |
157. | Laparotomia prévia |
158. | Lesão laboral no quadril |
159. | Lesão medular (habitualmente acarretando paralisia: tetraplegia, paraplegia, hemiplegia, diplegia, dependendo do nível da lesão): essas mulheres em geral são cadeirantes e podem ter partos sem dor, mas o diagnóstico não é indicação de cesárea! |
160. | Líquen vulvar – simples, escleroso, qualquer líquen |
161. | Líquido amniótico em excesso (polidrâmnio) |
162. | Lua minguante – os bebês ficam “preguiçosos” e não nascem; qualquer fase da Lua |
163. | Lúpus eritematoso sistêmico (LES) |
164. | Magreza da mãe |
165. | Malformação cardíaca fetal |
166. | Mecônio no líquido amniótico (só indica cesariana se houver associação com padrões anômalos de frequência cardíaca fetal, sugerindo sofrimento fetal) – e só descoberto quando se rompe a bolsa, não vale “achado ultrassonográfico”! |
167. | Miastenia gravis |
168. | Mioma uterino (exceto se funcionar como tumor prévio) |
169. | Miomectomia – pode ser indicação de cesárea, é preciso consultar o laudo e o médico que operou, para avaliar extensão e profundidade do procedimento. Exérese de tumores pediculados, p.ex. não será indicação de cesárea. Miometrectomia extensa atingindo a cavidade pode ser. |
170. | Miscigenação racial (dito assim mesmo), devido ao “elevado risco” de desproporção cefalopélvica |
171. | Mola hidatiforme em gestação anterior |
172. | Mulher muito alta, tem canal de parto muito grande, com risco de cansar o bebê durante a passagem |
173. | Mulher muito dengosa, de acordo com definição do obstetra |
174. | Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) |
175. | Nome do bebê dá azar para o parto |
176. | Nó verdadeiro de cordão (impossível o diagnóstico antenatal, sorry, ultrassonografia não faz milagres) |
177. | Obesidade materna |
178. | Osso pélvico muito baixo |
179. | Paciente “não ajuda para o parto normal” (momento vidente ON: “no fundo ela quer cesárea”) |
180. | Paciente “não tem perfil para parto normal” |
181. | Pancreatite aguda (ou história de) |
182. | Paralisia ou amputação de membros inferiores |
183. | Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico da progressão do TP deve se apoiar no partograma, conforme as atuais recomendações da OMS. Em relação ao período expulsivo, o próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas). A OMS não estabelece limites, apenas recomenda informar às parturientes que a maioria das nulíparas irão parir dentre de 3 horas de período expulsivo e as multíparas dentro de 2 horas, porém não há motivo para intervir independente da duração se mãe e concepto estão bem. |
184. | “Passou do tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas) |
185. | (do feto) nas costelas |
186. | Pé pequeno da mãe |
187. | Pé torto congênito |
188. | Perineoplastia anterior |
189. | Período expulsivo com duração de 2 horas (retorne à recomendação de usar as curvas mais modernas e considerar o percentil 95 de duração de período expulsivo – não é necessário intervir se mãe e bebê estão bem) |
190. | Pinos ortopédicos no pé |
191. | Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária |
192. | Placenta pequena (volume estimado pela ultrassonografia) |
193. | Placentas baixas não oclusivas do colo do útero |
194. | Plaquetopenia |
195. | Pólipos uterinos |
196. | Pouco líquido no exame ultrassonográfico (diagnóstico no laudo: oligo-hidrâmnio). Nem a ultrassonografia tem indicação no final da gravidez em gestantes normais e é fisiológica a redução do líquido. Não usar índice do líquido amniótico (ILA) e preferir o maior bolsão. ILA superestima a frequência de oligo-hidrâmnio. |
197. | Praticar musculação ou ser atleta |
198. | Pressão alta |
199. | Pressão baixa |
200. | Problemas oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia, glaucoma, ceratocone e descolamento da retina |
201. | Profissão professora |
202. | Prolapso de valva mitral |
203. | Prótese total de quadril |
204. | Prurido gestacional |
205. | Qualquer malformação fetal incompatível com a vida |
206. | Qualquer procedimento cirúrgico durante a gravidez |
207. | Queloide ou tendência a queloide podendo complicar uma episiotomia (e a cesárea não? E para que fazer episiotomia?) |
208. | Reação vasovagal |
209. | Restrição de crescimento intrauterino |
210. | Retocolite Ulcerativa com ou sem sangramento. |
211. | Rim único |
212. | Rim pélvico – pode “esmagar” o bebê |
213. | Sedentarismo |
214. | Septo uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via histeroscópica |
215. | Ser solteira (“porque o emocional pode estar alterado e não vai tolerar o parto vaginal”) |
216. | “Se fosse a minha mulher ou filha, eu faria cesárea” (machismo e tutela) |
217. | Síndrome da unha-patela |
218. | Síndrome de Down e qualquer outra cromossomopatia |
219. | Síndrome de Ovários Policísticos (SOP) |
220. | Síndrome de pânico |
221. | Síndrome do anticorpo antifosfolípide |
222. | Sinusite |
223. | Sono fetal (bebê que dorme durante o trabalho de parto) |
224. | Suspeita ecográfica de mecônio no líquido amniótico |
225. | Tabagismo |
226. | Tatuagem lombar |
227. | TDAH |
228. | Ter dreno na orelha desde a infância |
229. | Trabalho de parto prematuro |
230. | Trânsito urbano muito intenso |
231. | Tricomoníase |
232. | Trombofilias (inclui síndrome antifosfolipídios): por serem condições que predispõem à trombose, vale lembrar que o risco de trombose é maior no pós-operatório de cesariana. Usuárias de anticoagulantes, o risco de hemorragia é maior na cesárea. |
233. | Trombose venosa profunda |
234. | Uso de antidepressivos ou antipsicóticos |
235. | Uso de aspirina e outros antiagregantes plaquetários (ex.: clopidogrel): há duas recomendações, suspender o uso a termo ou próximo do parto e manter até o parto, em nenhuma das situações há indicação de cesárea |
236. | Uso de drogas ilícitas (maconha, crack, cocaína, ecstasy, lembrando que a drogadição requer tratamento e não uma cesariana) |
237. | Útero bicorno |
238. | Útero infantil |
239. | Útero não estava “calibrado” para aguentar as contrações |
240. | Útero retrovertido |
241. | Útero grande – não tem força para fazer contrações |
242. | Vagina com anatomia desfavorável |
243. | Vaginismo |
244. | Vaginose bacteriana |
245. | Varizes em membros inferiores |
246. | Varizes na vulva ou na vagina |
247. | Varizes uterinas |
248. | VBAC não indicado por médico canadense se a primeira cesárea foi feita no Brasil |
249. | Violência urbana, impedindo obstetra (famoso) de sair de casa à noite ou alegada como pretexto para que as gestantes também não sigam o perigoso percurso até a maternidade |
250. | Zika vírus: infecção presente ou passada e não, não foi apenas para terminar a lista de A-Z, são casos reais! |
Nota-1: infelizmente isto não é piada. Agradeço a contribuição das gestantes, das puérperas e mulheres submetidas a cesarianas que se sentiram enganadas, das mulheres que conseguiram fugir dos pretextos de cesarianas sem evidências, dos colegas que me contam que lhes foram referenciados, dos médicos residentes, de todos aqueles que me enviam bilhetinhos estapafúrdios indicando cesarianas por motivos os mais exóticos (estão todos escaneados e arquivados), a Gisele Leal que encontrou mais indicações informadas pelas mulheres nas redes sociais. A todas as participantes do grupo “Cesárea? Não, obrigada!” no Facebook que, atendendo ao meu pedido, forneceram acréscimos substanciais a esta lista, em especial a Ive Marchioni Avilez que conseguiu a façanha de compilar tantas novas contribuições. Em agosto de 2020 a lista foi atualizada com contribuições incríveis de usuárias do Instagram em meu perfil @melania44 e em março de 2021 nova versão teve os acréscimos de grupos do Facebook e de alunas do curso de doulas do IPESQ.
Nota-2: se você está satisfeita com sua cesárea, se ela foi realizada por sua solicitação (a pedido), esta lista não é para você. Ela sumaria indicações de cesariana para mulheres que à época foram enganadas e depois descobriram que não havia indicação real de cesariana ou mulheres que estão estudando sobre indicações de cesárea. Não adianta vir me esculhambar PORQUE EU NÃO ESTOU QUESTIONANDO SUA CESÁREA A PEDIDO. Há várias complicações maternas, perinatais e para as crianças tanto em curto como em longo prazo com cesarianas desnecessárias, incluindo alterações do microbioma, risco de alergia, asma e obesidade, mas é nossa firme convicção que a autonomia da mulher é soberana. Todavia, também acreditamos que todas as informações devem estar disponíveis, pois essa não é uma via de mão única.
Este post foi atualizado em 20/03/2021
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*Fonte: Melania Amorim, Médica Phd, Obstetra, Pesquisadora e Cientista e colaboração da Obstetriz Ana Cristina Duarte ( Amorim & Duarte – 2021 ) / http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
Setor de Ginecologia e Obstetricia do Instituto Nascer – Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
https://youtu.be/qw8b59sOX0Y