A constipação intestinal é uma queixa comum entre gestantes — estima-se que cerca de 40% a 50% das mulheres grávidas apresentem algum grau de dificuldade para evacuar durante a gestação. Mas por que isso acontece? E o que pode ser feito para aliviar esse desconforto sem prejudicar o bebê?
Neste texto, vamos explicar de forma clara as causas, os cuidados e as estratégias seguras para lidar com a constipação na gravidez, sempre com base nas melhores evidências científicas.
O que é constipação intestinal?
A constipação, ou prisão de ventre, é caracterizada por evacuações infrequentes (geralmente menos de três vezes por semana), fezes endurecidas ou ressecadas, esforço para evacuar e sensação de evacuação incompleta.
Durante a gravidez, essas alterações se tornam mais comuns devido a uma combinação de fatores hormonais, mecânicos e comportamentais.
Por que a constipação é tão comum na gravidez?
A constipação na gestação pode ter várias causas, e normalmente é multifatorial. As principais incluem:
- Progesterona: Esse hormônio, que aumenta significativamente na gravidez, relaxa a musculatura lisa do trato gastrointestinal, reduzindo o peristaltismo (movimentos intestinais).
- Compressão uterina: O útero em crescimento pode comprimir partes do intestino, dificultando o trânsito fecal, especialmente no terceiro trimestre.
- Mudanças dietéticas e redução da atividade física: Algumas mulheres, ao se sentirem mais cansadas ou com náuseas, acabam comendo menos fibras e se movimentando menos.
- Uso de suplementos de ferro: Alguns sais de ferro orais, especialmente os que contêm sulfato ferroso, estão associados à piora da constipação.
Quais são os riscos da constipação na gravidez?
Embora na maioria dos casos a constipação não traga riscos graves, ela pode causar desconforto importante, impactar a qualidade de vida, e em alguns casos levar ao desenvolvimento de hemorroidas e fissuras anais, condições dolorosas e que podem se agravar com o tempo.
Como prevenir a constipação intestinal na gravidez?
A prevenção é baseada principalmente em mudanças no estilo de vida, que são seguras, eficazes e benéficas para a saúde geral da gestante e do bebê:
- Alimentação rica em fibras: Priorizar frutas (com casca), vegetais, cereais integrais, leguminosas e sementes.
- Hidratação adequada: Ingerir de 2 a 3 litros de água por dia, especialmente se aumentar o consumo de fibras.
- Atividade física regular: Caminhadas, ioga para gestantes e hidroginástica ajudam a estimular o peristaltismo.
- Evitar segurar a vontade de evacuar: Criar uma rotina diária para o momento da evacuação, de preferência após as refeições.
E se a constipação já estiver presente? Como tratar com segurança?
Se as medidas preventivas não forem suficientes, algumas abordagens adicionais podem ser consideradas:
- Ajustes na suplementação de ferro: Em casos de constipação intensa, pode-se discutir com o profissional de saúde a troca para formulações menos constipantes, como glicinato férrico ou quelato de ferro.
- Probióticos: Algumas cepas, como Bifidobacterium e Lactobacillus, têm mostrado benefício no alívio da constipação funcional em gestantes (Cochrane, 2020).
- Laxantes seguros:
- Primeira escolha: Suplementos de fibras solúveis como psyllium (Plantago ovata) e metilcelulose.
- Segunda escolha: Laxantes osmóticos como o lactulose e o polietilenoglicol (PEG 3350) são considerados seguros na gestação, com evidência de eficácia sem efeitos adversos significativos.
- Evitar: Laxantes estimulantes (como senna ou bisacodil) devem ser usados com cautela, apenas por curto prazo e sob orientação médica.
Quando procurar ajuda médica?
A gestante deve procurar avaliação profissional se:
- Houver dor abdominal persistente;
- Presença de sangue nas fezes;
- Constipação resistente às medidas comportamentais e farmacológicas iniciais;
- Sinais de hemorroidas complicadas (dor intensa, trombose, sangramento ativo).
Resumo: cuidado e escuta são fundamentais
A constipação intestinal na gravidez é comum, mas não precisa ser motivo de sofrimento. A escuta atenta, a orientação baseada em evidências e o cuidado multiprofissional (Obstetra e Nutricionista) fazem toda a diferença no acolhimento desse sintoma. No Instituto Nascer, cuidamos para que cada mulher tenha uma gestação mais leve, confortável e respeitosa — inclusive no trato com as pequenas grandes questões do dia a dia.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
*Fontes e Evidências Científicas Utilizadas:
- National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Antenatal care guideline [NG201]. 2021.
- ACOG Practice Bulletin No. 189: Nausea and Vomiting of Pregnancy (para revisão de efeitos colaterais do ferro oral).
- Cochrane Database of Systematic Reviews. “Interventions for treating constipation in pregnancy.” 2020.
- UpToDate. “Constipation in pregnancy: Clinical manifestations, diagnosis, and treatment.”
- NHS. “Constipation in pregnancy – Symptoms and treatment.”