Instituto Nascer

Cerebro na Gravidez

Não é você que começa o parto

Não existem exercícios, chás ou truques milagrosos que iniciem o trabalho de parto

Uma das angústias mais comuns no final da gestação é a sensação de que “o parto não está começando”.
Muitas mulheres chegam às últimas semanas se perguntando:

“Será que eu deveria caminhar mais?”
“Será que estou fazendo algo errado?”
“Será que existe algum exercício, chá ou técnica para ‘chamar’ o parto?”

A resposta, baseada nas melhores evidências científicas disponíveis, é clara e libertadora:

Não é a mulher que inicia o trabalho de parto.
O parto não começa por força de vontade, exercícios ou truques caseiros.

O trabalho de parto é um processo biológico, hormonal e altamente coordenado, que envolve principalmente o bebê, a placenta e o útero — e não ações externas isoladas.

O mito do “faça isso para o parto começar”

Caminhadas longas, subir escadas, bola, agachamentos, relações sexuais, chás, alimentos específicos…
Essas práticas são frequentemente divulgadas como formas de “acelerar” ou “iniciar” o parto.

O que dizem as evidências?

Nenhuma dessas estratégias mostrou capacidade consistente de iniciar o trabalho de parto espontaneamente em gestantes de baixo risco.
Revisões sistemáticas da Biblioteca Cochrane demonstram que essas intervenções não reduzem de forma significativa o tempo até o início do parto quando o corpo ainda não está biologicamente pronto.
Em muitos casos, o efeito percebido é apenas coincidência temporal — o parto começaria de qualquer forma.

Isso não significa que movimento, conforto e bem-estar não sejam importantes. Eles são.
Mas eles não são o gatilho do parto.

O parto não começa porque “deu vontade” ou porque “chegou a data”

Outro ponto importante:
A data provável do parto (DPP) não é um prazo final.

Ela é uma estimativa estatística.
A gestação humana normal pode se estender, com total segurança, até 41 semanas completas, em muitas mulheres, quando tudo está saudável.

A ideia de que o parto “atrasou” costuma gerar ansiedade desnecessária e, muitas vezes, intervenções precoces sem indicação real.

Então… quem começa o parto?

O parto começa quando o bebê está pronto.
E quem coordena esse processo é um sistema sofisticado de comunicação hormonal entre:

  • o feto
  • a placenta
  • o útero
  • o cérebro materno

Esse processo é automático, involuntário e não pode ser forçado sem consequências.

A fisiologia hormonal do início do trabalho de parto

O início do trabalho de parto é resultado de uma cascata hormonal complexa, cuidadosamente sincronizada.

1. O papel central do bebê e da placenta

À medida que o bebê atinge maturidade pulmonar e neurológica, ocorre um aumento na produção de cortisol fetal.
Esse cortisol sinaliza para a placenta que o bebê está pronto para nascer.

2. Mudanças hormonais na placenta

A placenta, ao receber esse sinal, modifica sua produção hormonal:

  • Reduz o efeito funcional da progesterona (hormônio que mantém o útero “relaxado”)
  • Aumenta a produção de prostaglandinas e estrogênios

Essas substâncias tornam o útero mais sensível e responsivo.

3. Ativação do útero

Com essa nova sensibilidade:

  • O colo do útero começa a amadurecer, encurtar e dilatar
  • As fibras uterinas passam a se contrair de forma coordenada

Essas contrações não são provocadas conscientemente, nem dependem de esforço físico externo.

4. Ocitocina: a orquestradora final

Quando o sistema está pronto, o cérebro materno libera ocitocina, o hormônio central do parto.
Ela:

  • Coordena as contrações
  • Aumenta progressivamente sua própria liberação
  • Depende de segurança, privacidade e redução do estresse para agir plenamente

Esse é um ponto fundamental: medo, pressão e ansiedade podem inibir a ocitocina, atrasando — e não ajudando — o parto.

O que realmente ajuda o parto a acontecer?

Se não existem truques milagrosos, o que ajuda de verdade?

=> Um pré-natal de qualidade
=> Informação baseada em evidências
=> Redução do medo
=> Ambiente seguro e acolhedor
=> Confiança no corpo e no processo
=> Uma equipe que saiba respeitar o tempo fisiológico do parto

No Instituto Nascer, acreditamos profundamente que:

O parto quase sempre é consequência de mulheres bem cuidadas.

Não se trata de “fazer algo a mais”, mas de não atrapalhar o que o corpo sabe fazer.

Uma mensagem importante para quem espera

Se o seu parto ainda não começou, isso não é falha sua.
Seu corpo não está “errado”.
Seu bebê não está “demorando”.

O trabalho de parto não começa quando alguém manda.
Ele começa quando tudo está pronto.

E quando começa, o corpo sabe exatamente o que fazer.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer, Comunidade Nascer e Nascer Academy – CRM-MG 34455

Fontes científicas

  • Cochrane Database of Systematic Reviews. Interventions to initiate labour.
  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Practice Bulletin: Management of Late-Term and Postterm Pregnancies.
  • UpToDate. Physiology of parturition.
  • Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG). Induction of Labour.
  • National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Intrapartum care for healthy women and babies.
  • OMS. WHO recommendations: Intrapartum care for a positive childbirth experience.

Ainda não encontrou a informação que precisava?

Utilize a ferramenta de busca para encontrar o tema desejado.

Olá! Agende sua Consulta pelo Whatsapp
Preencha os campos abaixo para iniciar a conversa