Ele funciona mesmo? Quando usar? E quais os riscos?
O final da gestação traz ansiedade, expectativa e a famosa pergunta: “Tem algo natural que pode ajudar o trabalho de parto a começar?”. Nesse momento, muitas mulheres escutam falar do “Shake das Parteiras”, também chamado de Midwive’s Brew. Ele é popular há décadas, mas também é cercado de mitos.
Aqui no Instituto Nascer, acreditamos que informação baseada em evidências é o que permite que cada mulher tome decisões de forma segura e consciente.
A seguir, você vai entender o que realmente se sabe sobre este método, quando ele costuma ser usado, o que dizem as melhores pesquisas e quando os riscos superam os benefícios.
O que é o “Shake das Parteiras”?
A shake de parteiras é um método indutor de trabalho de parto usando ingredientes naturais. Na verdade, remonta a 1800 e é relatado que se originou na Europa; uma parteira faria essa bebida e a daria a uma mulher grávida que estava com a gravidez prolongada. Também é chamado de Coquetel do Parto Alemão por causa de sua popularidade entre as parteiras na Europa.
É uma bebida tradicional utilizada por algumas mulheres para tentar estimular o início do trabalho de parto.
As receitas variam, mas em geral incluem:
- Óleo de mamona (óleo de rícino) – ingrediente ativo
- Chá ou suco
- Alguma fruta ou bebida para melhorar o sabor
- Pasta de amendoim ou castanhas
O único elemento realmente relevante do ponto de vista biológico é o óleo de mamona, um laxante potente.
Como ele funciona no corpo?
O óleo de mamona é metabolizado no intestino e forma ácido ricinoleico, uma substância que ativa receptores prostanoides envolvidos em contrações intestinais e uterinas.
Isso significa que:
- Ele estimula bastante o intestino (causa cólicas e diarreia)
- Esse estímulo pode aumentar a liberação de prostaglandinas
- Prostaglandinas podem ajudar o útero a contrair
Ou seja, há um mecanismo plausível — mas não necessariamente seguro para todas as mulheres.
Ele realmente funciona?
A ciência ainda não tem um consenso definitivo, mas há algumas evidências importantes:
O que estudos mais antigos mostravam:
A revisão Cochrane sobre o tema concluiu que os estudos eram pequenos, de qualidade variável e que não havia evidência forte o suficiente para recomendar o uso rotineiro do óleo de mamona para indução.
O que estudos mais recentes observaram:
Ensaios clínicos e meta-análises mais novas mostram que:
- O óleo de mamona pode aumentar a chance de o trabalho de parto começar nas próximas 24h, especialmente quando:
- a gestação já está a termo
- o colo está favorável
- a mulher é multípara
=> Porém, ainda são estudos pequenos, heterogêneos e sem padronização de dose ou composição da bebida.
Conclusão prática
Há sinais de efetividade, mas não há robustez científica suficiente para recomendar como método de indução de rotina.
Quais são os riscos?
Os efeitos adversos são frequentes:
- Náuseas
- Vômitos
- Diarreia intensa
- Cólica abdominal forte
- Desidratação e mal-estar
- Exaustão antes do trabalho de parto começar
Em alguns estudos, foram relatados casos de:
- Contrações muito intensas
- Taquissistolia (muitas contrações)
- Avaliações mais frequentes por possibilidade de sofrimento fetal
Ainda que a relação direta não seja conclusiva, o risco de efeitos gastrointestinais severos é real e pode atrapalhar o parto.
Quando NÃO usar?
- Antes de 39 semanas, sem indicação médica
- Gestação com contraindicação para parto vaginal
- Placenta prévia, sangramento ou qualquer situação clínica instável
- Quando houver suspeita de sofrimento fetal
- Em gestantes com risco aumentado de desidratação
- Em caso de alergia a algum componente da receita
Então… vale a pena?
Se você está a termo, saudável, com colo favorável e deseja tentar métodos naturais, converse com sua equipe.
A decisão deve ser personalizada, avaliada caso a caso e sempre dentro do contexto de segurança materno-fetal.
No Instituto Nascer, seguimos um cuidado baseado em:
- Protagonismo da mulher
- Abordagem interdisciplinar
- Medicina baseada em evidências
E isso significa: todas as decisões devem ser informadas, seguras e compartilhadas.
Alternativas seguras e baseadas em evidências
Antes de pensar no “Shake das Parteiras”, discuta com sua equipe:
- Toque vaginal com descolamento de membranas
- Cateter balão de dilatação
- Prostaglandinas
- Ocitocina
- Métodos comportamentais com evidência moderada (estimulação mamilar em alguns contextos)
Essas estratégias têm protocolos claros e monitorização adequada, sendo reconhecidas por organismos como NICE, ACOG e OMS.
Mensagem final
A ansiedade pelo nascimento é legítima. Mas cada método, até os chamados “naturais”, tem riscos e efeitos que precisam ser considerados com calma.
Se quiser conversar sobre isso com nossa equipe, entender se é adequado no seu caso ou conhecer alternativas mais seguras, estamos sempre por perto para orientar com carinho, acolhimento e ciência.
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Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer, Comunidade Nascer e Nascer Academy – CRM-MG 3445.
Fontes
- Cochrane Database of Systematic Reviews — Castor oil, bath and/or enema for cervical priming and induction of labour.
- Moradi et al. Effect of Castor Oil on Cervical Ripening and Labor Induction (2022).
- Tunaru S. et al. Castor oil induces laxation and uterus contraction via ricinoleic acid activating prostaglandin EP3 receptors. PNAS.
- NICE Guideline NG207 — Inducing Labour.
- ACOG Practice Bulletin — Induction of Labor.
- Estudos observacionais e ensaios clínicos recentes sobre o uso de óleo de mamona e “Midwives’ Brew”



