Podemos aprender algo com mulheres que dão à luz em carros ou na porta da maternidade? Sim!
Hoje, a maioria dos partos ocorrem no hospital – pelo menos no mundo ocidental moderno. Por que as mulheres precisam de tanto estímulo no hospital e porque todas essas mulheres que vivem partos no carro ou na porta da maternidade tem períodos explosivos tão rápidos?
Milhares de bebês no mundo nascem diariamente em trânsito a caminho da maternidade. Há algo que acontece nesses partos que você provavelmente nunca ouviu falar. Todas essas histórias são simplesmente fortes exemplos do “Reflexo de Ejeção Fetal” ou Reflexo de Expulsão Incontrolável do Bebê!
O termo “reflexo de ejeção fetal” foi usado pela primeira vez pelo cientista Niles Newton nos anos 60 em referência a estudos com camundongos que mostravam o papel do stress e do medo no andamento do parto. Depois nos anos 80 o Obstetra Francês, Michel Odent descreveu supostamente esse fenômeno em mulheres em trabalho de parto. Geralmente ocorre em um trabalho de parto completamente intacto quando a mulher se sente segura e apoiada sem se incomodar com ruídos ou luzes fortes.
Cérebro Racional X Cérebro Primal
É por isso que das mulheres que dão à luz em casa normalmente experimentam o “reflexo de ejeção fetal”, mas é raro vê-lo em hospitais. Uma mãe que em trabalho de parto ao entrar no hospital, quer ela perceba ou não, tem seu neocórtex / “cérebro pensante” superestimulado e perturba seu cérebro primal mais profundo, mesmo que ela conscientemente queira estar no hospital. Ela dará à luz, apesar da perturbação, ou receberá intervenção para resgatá-la.
A força da natureza
Assim, quando uma parturiente transporta-se repentinamente para um ambiente estranho de um carro ou corredor de hospital, seu trabalho pode diminuir ou, às vezes, parar por completo. Mas se ela estiver muito longe, seu corpo pode ejetar o bebê rapidamente. Este é um reflexo da natureza. No final do processo de parto, uma onda de adrenalina retira sua endorfina e os músculos do útero contraem para baixo ejetando o bebê de forma rápida.
Puxos dirigidos X Puxos involuntários
O que se entende por “empurrar” – força treinada e excessiva em uma posição supina (deitada) do corpo ou limite de tempo imposto – não é o mesmo que “empurrar para baixo”. Uma mulher pode ter se sentido como ela empurrou, mas na verdade ela está indo para baixo junto com a força de seu próprio corpo, na sugestão de seu corpo, não na sugestão de outras pessoas. É por isso que é importante que as mulheres escutem seus corpos em trabalho de parto, seguindo sua sugestão – e, por sua vez, para os cuidadores escutarem a mulher e seguirem sua sugestão.
A importância do ambiente
Como diz Michel Odent: “Vamos sonhar com uma época em que a arte da obstetrícia será primariamente a prática de não impedir o reflexo de ejeção fetal”. Muitos de nós, homens e mulheres, cuidadores e gestores de saúde não pensamos sobre o efeito que o ambiente escolhido tem no andamento fisiológico ou patológico do parto.
Ambiência é amor
Ao buscar o lugar mais seguro para dar à luz, podemos ter trocado a biologia – e o próprio reflexo de ejeção fetal – por uma sensação diferente de segurança no mundo contemporâneo. Os hospitais e as maternidades modernas precisam refletir sobre o impacto negativo de um ambiente hospitalar seguro, mas hostil, comparado com um ambiência hospitalar que cônjuge segurança, acolhimento e privacidade. O desafio para as próximas décadas será criar um ambiente que realmente ajude a facilitar a fisiologia do nascimento e uma experiência positiva e segura do parto.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
*Referências: Newton N. The fetus ejection reflex revisited – Birth / Newton N, Foshee D, Newton M. Experimental inhibition of labor through environmental disturbance – Obstetrics & Gynecology / Odent M. The fetus ejection reflex – Birth / Odent M. 1992. The nature of birth and breastfeeding – Westport, CT: Greenwood Publishing.