Durante a gestação, o líquido amniótico é um verdadeiro “berço aquático” para o bebê. Ele protege contra impactos, permite o desenvolvimento adequado dos pulmões e dos músculos, facilita os movimentos fetais e contribui até mesmo para a regulação da temperatura. Quando esse líquido está em quantidade abaixo do esperado para a idade gestacional, estamos diante do chamado oligoidrâmnio.
Mas o que exatamente isso significa? E será que sempre representa um risco?
O que é oligoidrâmnio?
O termo oligoidrâmnio descreve uma situação em que há volume reduzido de líquido amniótico no útero. Esse diagnóstico geralmente é feito por meio da ultrassonografia obstétrica, usando dois métodos principais:
- Índice de Líquido Amniótico (ILA): considerado oligoidrâmnio quando o valor é inferior a 5 cm.
- Maior bolsão vertical livre (MBVL): oligoidrâmnio quando o bolsão maior é inferior a 2 cm.
É importante destacar que uma única medida reduzida não necessariamente significa um problema. A avaliação deve sempre ser contextualizada com o estado clínico da gestante, da placenta e do bebê.
Quais são as principais causas?
O oligoidrâmnio pode ter várias causas, que variam conforme o momento da gestação. Entre as mais comuns, destacam-se:
- Rotura prematura de membranas (perda de líquido pela vagina);
- Alterações placentárias com má perfusão e consequente redução da produção de urina fetal (principal fonte de líquido no 3º trimestre);
- Malformações renais ou urinárias no feto;
- Gravidez pós-termo (após 41 semanas), quando a função placentária começa a declinar;
- Restrição de crescimento intrauterino (RCIU);
- Pré-eclâmpsia e outras síndromes hipertensivas da gestação;
- Uso de certos medicamentos, como inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).
No entanto, em muitos casos, especialmente no final da gestação, o oligoidrâmnio é idiopático — ou seja, sem uma causa aparente.
Quais são os riscos?
Quando confirmado e persistente, o oligoidrâmnio pode estar associado a maior risco perinatal, especialmente se ocorrer precocemente ou em associação com outras condições como RCIU ou alterações do bem-estar fetal.
Entre os riscos potenciais:
- Compressão do cordão umbilical, que pode afetar a oxigenação fetal;
- Hipoplasia pulmonar, especialmente quando o oligoidrâmnio é precoce e grave;
- Complicações durante o trabalho de parto, como sofrimento fetal;
- Aumento na taxa de intervenções obstétricas quando não há um manejo baseado em evidências.
Por isso, é fundamental diferenciar casos que exigem apenas vigilância daqueles que demandam ações mais ativas.
Como é feito o diagnóstico e o acompanhamento?
O diagnóstico é sempre ultrassonográfico, idealmente realizado por profissionais experientes. Uma vez identificado, o manejo depende do contexto clínico:
- Avaliação do bem-estar fetal com perfil biofísico, Doppler e cardiotocografia;
- Monitoramento seriado do volume de líquido;
- Investigação de causas associadas, como pressão alta, restrição de crescimento ou rotura de membranas.
Em casos leves e isolados, o seguimento pode ser ambulatorial, com hidratação materna adequada e ultrassonografias frequentes. Quando há fatores de risco associados, pode ser necessário maior vigilância ou internação.
Oligoidrâmnio não é sinônimo de cesariana!
É muito importante lembrar: o diagnóstico de oligoidrâmnio não é uma indicação automática de cesariana. A maior parte dos casos pode e deve ser acompanhada com segurança até o momento ideal do parto.
Quando a interrupção se faz necessária — seja por oligoidrâmnio persistente, gestação prolongada ou alteração no bem-estar fetal — a indução do parto costuma ser o caminho mais indicado. Estudos mostram que, com assistência adequada, o parto vaginal é possível e seguro na maioria dos casos, inclusive com taxas satisfatórias de sucesso mesmo em primíparas.
No Instituto Nascer, nosso cuidado é individualizado, baseado nas melhores evidências científicas e sempre centrado na mulher e no bebê. A presença de oligoidrâmnio, quando bem conduzida, não impede uma experiência positiva e respeitosa de nascimento.
Oligoidrâmnio: baixo volume de líquido — o que é?
Referências:
- ACOG Practice Bulletin No. 175: Ultrasound in Pregnancy. Obstet Gynecol. 2016.
- ACOG Practice Bulletin No. 223: Fetal Growth Restriction. Obstet Gynecol. 2020.
- NICE Guideline [NG121] Intrapartum Care for Healthy Women and Babies. National Institute for Health and Care Excellence. 2019.
- Cochrane Database of Systematic Reviews: “Amnioinfusion for potential or suspected umbilical cord compression in labour” (2020).
- UpToDate: “Oligohydramnios: Etiology, diagnosis, and management” (reviewed 2024).