Na última semana, tive a honra de ser palestrante em um simpósio internacional de obstetrícia, um espaço rico de troca de experiências e evidências científicas. Durante o evento, conversei com uma colega que participou do POOL Study, a maior pesquisa já realizada sobre parto na água em mulheres de baixo risco publicada em 2024. A discussão nos fez refletir sobre como os resultados desse estudo impactam diretamente a nossa prática obstétrica e, principalmente, as escolhas das mulheres em relação ao nascimento de seus filhos.
O POOL Study, conduzido no Reino Unido com mais de 73 mil mulheres, avaliou os desfechos maternos e neonatais de mulheres que usaram imersão em água durante o trabalho de parto. Destas, cerca de 30 mil mulheres tiveram o parto efetivamente dentro da água, enquanto o restante saiu da água antes do nascimento. O objetivo central foi verificar se permanecer na água até o parto aumentava riscos como lacerações graves do canal de parto ou complicações neonatais — preocupações frequentemente levantadas em relação à waterbirth.
Os resultados foram claros e robustos: dar à luz dentro da água não aumentou o risco de lesão do esfíncter anal nem de eventos neonatais graves, quando comparado às mulheres que saíram da água antes do parto. Além disso, para multíparas, o estudo indicou até uma tendência de menor ocorrência de lacerações graves no parto na água, reforçando a segurança da prática em contexto adequado.
Esses achados têm implicações diretas para a assistência ao parto, como praticamos no Instituto Nascer. Eles confirmam que a imersão em água é uma opção segura para mulheres de baixo risco, desde que acompanhada por uma equipe capacitada, com protocolos claros e monitoramento adequado. Mais do que isso, trazem respaldo científico para que a mulher tenha protagonismo na decisão sobre onde e como dar à luz, sem abrir mão da segurança.
No Brasil, onde muitas vezes o parto normal enfrenta barreiras institucionais e culturais, o POOL Study reforça a importância de oferecer escolhas informadas às gestantes, garantindo um cuidado baseado em evidências, seguro e respeitoso. Aqui no Instituto Nascer, acreditamos que o parto vai além da técnica: envolve ciência, cuidado integral e respeito absoluto às decisões da mulher. E agora, com evidências como as do POOL Study, podemos oferecer essas opções com ainda mais confiança.
Há mais de 15 anos, o Instituto Nascer tem orgulho de ser pioneiro no Brasil na assistência ao parto na água com segurança, embasamento científico e profundo respeito à fisiologia e ao protagonismo da mulher. Desde os primeiros partos na água assistidos por nossa equipe, contribuímos para disseminar conhecimento e boas práticas, ajudando a implementar essa modalidade de cuidado em maternidades de Belo Horizonte, como o Hospital Mater Dei, e inspirando, à distância, muitos colegas obstetras e inúmeras gestantes que acreditam em um nascimento mais natural, seguro e humanizado. Hoje, ao vermos estudos como o POOL Study confirmarem a segurança dessa prática, reafirmamos nossa trajetória de pioneirismo, compromisso com a ciência e dedicação ao nascimento respeitoso que sempre nos guiou.
O que esse estudo nos ensina, acima de tudo, é que o protagonismo da mulher e a segurança clínica podem caminhar juntas. Nosso compromisso é continuar oferecendo um espaço onde cada gestante possa decidir como quer viver esse momento único, com respeito, informação e segurança.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes e referências científicas
▪️ The POOL Study – Birth in water in England and Wales: the POOL cohort study
▪️ National Institute for Health and Care Excellence (NICE) – Intrapartum care for healthy women and babies (CG190, atualizado em 2023).
▪️ Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) – Immersion in Water During Labour and Birth (2022).
▪️ Cochrane Database of Systematic Reviews – Immersion in water during labour and birth for women with low-risk pregnancies (Cluett & Burns, 2022).
▪️ UpToDate (2025) – Water birth: Maternal and neonatal outcomes.




