Durante a gestação, o líquido amniótico é essencial para o desenvolvimento saudável do bebê. Ele permite que o feto se movimente livremente, protege contra traumas, ajuda na formação dos pulmões e facilita o crescimento equilibrado. Quando o volume desse líquido está acima do normal, estamos diante de uma condição chamada polidrâmnio.
Embora soe preocupante à primeira vista, o polidrâmnio na maioria das vezes é leve e pode ser acompanhado com segurança. Vamos entender melhor o que isso significa?
O que é polidrâmnio?
O polidrâmnio (ou hidramnia) é o excesso de líquido amniótico no útero. O diagnóstico é feito por meio da ultrassonografia obstétrica, com base em dois parâmetros:
- Índice de Líquido Amniótico (ILA) > 24 cm
- Maior bolsão vertical livre (MBVL) > 8 cm
Essa condição é classificada em leve, moderada ou grave, a depender dos valores encontrados. A maioria dos casos se enquadra na forma leve, sem repercussões clínicas importantes.
Quais são as causas?
Na maior parte das vezes, o polidrâmnio é idiopático, ou seja, não se encontra uma causa específica. No entanto, em cerca de 20 a 40% dos casos, ele pode estar associado a:
- Diabetes materno (pré-existente ou gestacional);
- Malformações fetais, principalmente do trato gastrointestinal e sistema nervoso central (que dificultam a deglutição fetal);
- Infecções congênitas (como toxoplasmose, citomegalovírus ou sífilis);
- Gestação gemelar com síndrome de transfusão feto-fetal (STFF);
- Anomalias genéticas ou cromossômicas;
- Hidropsia fetal.
É por isso que, ao identificar o polidrâmnio, é importante uma investigação dirigida, respeitando o contexto clínico e a idade gestacional.
Quais são os riscos?
Em casos leves, o risco geralmente é baixo e o acompanhamento segue normalmente. Já em casos moderados a graves, especialmente quando associados a malformações ou outras alterações, o polidrâmnio pode aumentar o risco de:
- Parto prematuro, devido à distensão uterina;
- Rotura prematura de membranas;
- Descolamento prematuro de placenta;
- Prolapso de cordão umbilical no início do trabalho de parto;
- Dificuldades respiratórias maternas, nos casos mais graves.
Apesar disso, a grande maioria das gestantes com polidrâmnio leve terá uma gestação e um parto absolutamente normais, com um bebê saudável.
Como é o diagnóstico e acompanhamento?
O diagnóstico é feito por ultrassonografia obstétrica, geralmente no segundo ou terceiro trimestre, durante os exames de rotina. Quando o líquido está aumentado, a equipe assistencial pode recomendar:
- Avaliação do controle glicêmico da gestante;
- Investigação de infecções congênitas;
- Ecocardiografia fetal e avaliação morfológica detalhada;
- Testes genéticos ou cariótipo fetal em casos selecionados.
O acompanhamento inclui ultrassonografias seriadas, controle da glicemia, avaliação do bem-estar fetal e, em alguns casos, cardiotocografia. Em situações mais graves ou sintomáticas, pode ser necessário tratamento com medicamentos que reduzem a produção de líquido (como a indometacina), embora essa conduta seja pouco comum e reservada para casos específicos, com avaliação multidisciplinar.
Polidrâmnio não é indicação automática de cesariana!
Assim como o oligoidrâmnio, o polidrâmnio não é sinônimo de parto cirúrgico. O tipo de parto deve ser definido com base em uma avaliação global da gestação, das condições do bebê e da mulher. Na imensa maioria dos casos, especialmente nos quadros leves e idiopáticos, o parto vaginal é possível, seguro e desejável.
Quando a interrupção da gestação é necessária, ela deve seguir os mesmos critérios obstétricos gerais, e a indução do parto é frequentemente viável, desde que haja monitoramento adequado. Com uma assistência baseada em evidências, muitas mulheres com polidrâmnio terão uma experiência de parto positiva, segura e respeitosa.
No Instituto Nascer, nossa missão é oferecer cuidado humanizado e individualizado, promovendo segurança e autonomia para cada mulher — mesmo diante de diagnósticos que assustam à primeira vista.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Referências:
- ACOG Practice Bulletin No. 196: Intrapartum Management of Intraamniotic Infection. Obstet Gynecol. 2018.
- UpToDate: “Polyhydramnios: Etiology, diagnosis, and management” (updated 2024).
- NICE Guideline [NG121] Intrapartum care for healthy women and babies. National Institute for Health and Care Excellence, 2019.
- Cochrane Database of Systematic Reviews. “Amnioreduction for polyhydramnios” (2019).
- Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) – Green-top Guideline No. 31: The Investigation and Management of the Small-for-Gestational-Age Fetus.