Carine Tavares Branco

Como o tempo passa rápido… já se foram quase 05 meses desde a chegada do meu pequeno milagre. Não sei porque adiei a escrita do meu relato de parto, assim como não sei o porquê de o estar escrevendo neste momento. O que sei, é que no dia 05 de Junho, minha vida, nossas vidas, transformaram-se para sempre.
O dia 04 de Junho parecia um sábado como outro qualquer, eu e meu marido levantávamos cedo para ir ao Curso de Preparo de Parto do Instituto Nascer já marcado há vários meses… Eu estava com 38 semanas de gestação, mas isso nem me preocupava…afinal de contas…eu tinha CERTEZA de que meu bebê demoraria pelo menos mais 2 semanas pra chegar…já tinha conversado com ele, explicado sobre a obra que estávamos fazendo na nossa casa, sobre como eu queria que o final da licença maternidade coincidisse com minhas férias e principalmente que eu ainda precisava de umas semanas pra dormir.
O Curso do Instituto foi muito bacana! Aprendemos um pouquinho sobre cada um dos momentos do parto (mal sabia eu que em algumas horas, colocaria tudo aquilo em prática). Apesar de já ter visto a Lena (uma das doulas que trabalham com o Instituto) em alguns cursos, nunca tinha a conhecido pessoalmente, ainda não tínhamos tido a oportunidade de conversar. Neste dia ela estava lá…e lembro de dois momentos marcantes… O primeiro, durante o curso, quando ela nos apresentou a “banqueta”…e perguntou quem queria experimentar, ver como era…eu logo disse que não…porque “vai que ele acha que é hora de nascer”… O segundo momento foi uma conversa despretensiosa durante o lanche, em que falava com uma amiga como me imaginava durante o trabalho de parto…que sabia que sentiria dor…mas que não me imaginava gritando de jeito nenhum…que provavelmente iria chorar, mas aguentar a dor calada… Lena, com toda sabedoria, me perguntou? “Você já pariu?” “Ah…então espera pra ver”…rs
O curso terminou por volta de meio dia. Eu e meu marido almoçamos e seguimos para nosso próximo destino: Hotel Ouro Minas. Sim, tínhamos programado um fim de semana a dois, para termos um tempinho juntos antes da chegada do Felipe. Queríamos sair da nossa rotina, das tubulações do dia a dia… Queria despedir da minha barriga…ir pra piscina e tirar várias fotos com ela de fora… Em época de Zyka…não tinha me atrevido, nenhuma vez, a ir a clubes, sítios ou praias.
Às 14hs já estávamos no Ouro Minas, com direito a upgrade de quarto…o hotel estava bem cheio, pois acontecia lá o II Seminário Internacional de Mães. Por volta de 14:30 já estávamos no nosso quarto, deitados, conversando e imaginando como nossa vida mudaria em algumas semanas…quais eram nossas expectativas, nossos anseios, nossas vontades… Lembro do meu marido falando “Não vejo a hora dele chegar! Por mim já podia nascer agora!” (até hoje tenho certeza que foi isso que “apressou” o Felipe). Depois de alguns minutos de conversa…decidi ir ao banheiro trocar de roupa, para descermos para a piscina… E neste momento vi que estava sangrando…e veio aquele desespero…medo de que aquela plaquetopenia descoberta durante a gravidez era algo que tinha que ter me preocupado mais, ou que a baixa de liquido amniótico tinha acontecido mais uma vez e eu temia pela vida do meu bebê.
Em meio ao meu despespero liguei para o Dr. Hemmerson, que estava no aeroporto de São Paulo, retornando para Belo Horizonte… Não acredito muito em coincidências…mas em “Deusidência”, ah isso sempre…e lá estava a primeira…ao falar com ele que eu estava no Ouro Minas ele logo pediu para eu entrar em contato com a Dra. Quesia, que também estava lá, por causa do Seminário de Mães…
Ligamos para ela e explicamos a situação e durante essa ligação, antes mesmo dela chegar ao nosso quarto…minha bolsa rompeu…eu já sabia que era strepto positivo, e que isso significava que em algumas horas o Felipe, nosso filho, estaria em minhas mãos… Meu lado controladora desesperou-se…”Como assim???” “Como as coisas não estavam indo como tínhamos planejado?” “Eu não estou pronta ainda”… eu até podia achar que não estava…mas ele já sabia que sim…
Dra. Quesia chegou ao nosso quarto, escutou tudo que relatei, riu junto com a gente de toda aquela situação… Afinal de contas…não é todo dia que alguém entra em trabalho de parto na suíte do Ouro Minas…e de lá mesmo reservou a suíte PPP da Maternidade Santa Fé. Fomos para casa (acho que nunca fizeram um check-out tão rápido), e começamos a nos preparar para ir à maternidade… Dr. Hemmerson chegou de São Paulo, encontramo-nos no Santa Fé…fui examinada e ainda estava com 1cm… Juntamente com o Dr. Hemmerson, eu e meu marido decidimos ir para casa, e esperar por lá até que as contrações iniciassem e estivéssemos em trabalho de parto ativo… E assim fizemos…
Até então…não tinha sentido uma contração…mas elas vieram, assim que saímos do hospital… Estávamos em contato constante com a Lena (que por mais uma Deusidência, foi a doula escolhida para nos acompanhar) e por volta de 3 horas da manhã minhas contrações já estavam mais intensas e ritmadas…
Voltamos pra Maternidade Santa Fé…suíte PPP já não estava mais disponível…pegamos um quarto…e lá ficamos esperando a chegada do Felipe. E foi aí que a “mágica” começou… lembro-me de tudo com tantos detalhes…mas ao mesmo tempo a lembrança parece embaçada…lembro-me de cada contração…das massagens…das horas no chuveiro…do cansaço…das mudanças de posição…das avaliações médicas de hora em hora…do barulhinho do batimento cardíaco do meu filho…mas da dor…sinceramente, eu não me lembro… Sei que senti dor, sei que em certo momento, já nos meus 9-10cm de dilatação, pensei em abrir mão do meu tão sonhado parto natural, sonho que foi crescendo dentro de mim a cada encontro no Instituto Nascer, algo que eu JAMAIS imaginava que ia querer pra mim…eu cheguei a falar “eu não aguento mais”… e neste momento escutei a voz da minha querida doula Lena e do querido médico Dr. Hemmerson… lembrando-me que eu conseguia sim…que meu filho já estava chegando…que eu ia dar conta… Se gritei??? SIM!!! Claro!!! Gritei, berrei, chorei, urrei…entreguei a cada uma das minhas emoções e das minhas vontades…eu, tão contida sempre, libertei-me por e pelo meu filho. E neste momento, por volta de 7:30 da manhã, descemos para o bloco, onde meu amado filho, meu amado Felipe nasceu, da mais humana, mais respeitada, mais doce forma. E lá estava eu, naquela mesma banquetinha do curso (ou uma versão um pouco mais antiga…rs), dando as boas vindas ao meu filho.
Logo que nasceu ele foi colocado em meu peito, onde pude cantar para ele a mesma canção que cantei tantas vezes enquanto ele estava na minha barriga…e que canto pra ele até hoje pra dormir…
No dia 05 de Junho de 2016, às 8:37 nascia o meu príncipe, desmistificando todos os meus mitos, quebrando minhas barreira, descontrolando tudo em mim…ensinando-me que nem tudo é do jeito que eu quero ou planejo….escolhendo o dia e o momento de nascer. Se faria tudo de novo??? CLARO!!! Mil vezes!!! Já estou preparando minha família…o segundo vai nascer na banheira…rs
O mais importante é que meu parto, pra mim,foi o mais perfeito possível…eu fui respeitada, minhas vontades foram respeitadas e eu fui a PROTAGONISTA do momento mais marcante da minha vida…e isso não tem preço. Continuo não lembrando da dor…mas recordo-me com muito carinho da sensação de vitória, de poder, de surpresa e de êxtase…foi maravilhoso…sem sofrimento…só com muito amor.

Carine Tavares Branco

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