Sempre quis ter filhos, sonhei com isso.
E sempre imaginei que teria um parto normal. Cresci ouvindo minha mãe e minhas tias contarem seus partos: todos normais. Para mim, o normal seria um parto “normal”.
Novembro de 2005: Inicio da primeira gravidez.
Quando decidi ter meu primeiro filho procurei uma médica que tivesse disponibilidade para fazer um parto normal. Isso porque já havia percebido que a cesareana estava na preferência dos médicos. Morava em Brasília e encontrei uma médica muito atenciosa, que se propôs a me acompanhar com a perspectiva de parto normal.
Já no início do acompanhamento de pré-natal minha médica disse que minha estrutura óssea era muito boa para realização de um parto normal. Fiquei feliz por saber que aparentemente não havia nada que pudesse impedir a preparação para um parto normal.
Julho de 2006: Na 37ª semana de gestação, já com avaliações de dilatação do colo, verificamos uma circular de cordão umbilical no pescoço do Lucas, através da ecografia. A médica disse que isso não impediria o parto normal, mas que seria mais seguro realizar uma cesárea. Na ultima semana, sem nenhum indício de trabalho de parto, marcamos a cesárea. Me senti segura por não ter que ir para um parto normal com um bebê em circular de cordão. Para mim era realmente um risco grande fazer um parto normal com bebê em circular de cordão umbilical. Já havia ouvido alguns relatos de problemas com o bebê devido a essa questão. Mas também havia frustração por não ter conseguido realizar o parto normal, que para mim era tão “normal”. Nunca imaginei fazer uma cesareana. Mas tentei me adaptar a nova situação.
Não tive nenhuma complicação pós-parto. O Lucas nasceu super bem também. Minha cicatrização foi ótima. Mas os primeiros meses pós-parto foram difíceis. Me sentia mal, deprimida e pouco empolgada com a maternidade. Também não consegui amamentar nada. Somente os 4 ou 5 primeiros dias. Houve um princípio de mastite, a pele ficou toda ferida e resolvi suspender a amamentação. Enfim, as coisas não aconteceram como eu imaginei.O Lucas ficou ótimo. Se adaptou perfeitamente à mamadeira e sempre foi muito saudável. Mas permaneci com o desejo frustrado de ter tido um parto normal.
Fevereiro de 2009: Nova gravidez. Decidi ter um segundo filho.
Já estava morando em BH e novamente comecei a buscar uma médica disposta a pensar no parto normal. Mas desta vez havia uma nova questão: uma cesareana prévia. Fui a dois médicos que não demonstraram resistência, mas disseram claramente que um parto normal, com cesareana prévia só seria possível se fosse tudo normal mesmo. Sem indução ou qualquer outra manobra.
Encontrei uma amiga no supermercado e ao olhar pra ela disse: “Era você mesma quem eu precisava encontrar!”. Minha amiga Quésia é ginecologista/obstetra e durante as primeiras semanas da minha gravidez não me lembrei dela hora nenhuma! Pura amnésia!
Ela foi logo me passando material pra ler, médicos de confiança que poderiam me acompanhar e otimismo quanto a realização de um parto normal! Fiquei empolgada! Mas tentei resistir e permanecer com um dos médicos que havia consultado. A Quésia insistiu. Ligou, enviou e-mail e me incentivou a buscar a Dra. Paula.
Marquei a consulta e decidi ir conferir! Adorei a Paula, as opiniões dela e a possibilidade real de realização de parto normal, sem tantas restrições como já havia ouvido.
Meu pré-natal foi ótimo. Tudo bem. Agora era aguardar para “ouvir o corpo falar”, como dizia a Dra. Paula.
Por volta da 37ª ou 38ª semana resolvemos iniciar o processo para descolar a bolsa. Após uma semana já sentia contrações bem freqüentes, mas sem evidenciar um trabalho de parto efetivo.
O parto da Marina
No fim da 38ª semana passei duas noites praticamente sem dormir com muitas contrações. E eram acompanhadas de cólicas: como as pessoas me disseram que seriam. Eu não entrei em trabalho de parto na primeira gravidez. Então não sabia ao certo o que deveria sentir.
Liguei para a Dra. Paula várias vezes num fim de semana, com contrações de 10 em 10 minutos, mas que se alternavam para 20 minutos e nunca chegavam aos 5 minutos. Ela resolveu me examinar no fim do dia 12 de outubro. Eu já estava sentindo contrações ao longo de todo o dia, com cólicas que não paravam e sem dormir direito por duas noites.
Minha dilatação estava aumentando mas sem chegar a 3 ou 4. Resolvemos descolar a bolsa mais uma vez. Desta forma, com certeza as contrações aumentariam ainda naquela noite.
Não foi necessário esperar a madrugada. Após 2 horas (21:15h) eu já estava de volta ao hospital com tudo pronto, contrações com intervalos menores que 5 minutos e ansiedade para ver tudo acontecer.
“As contrações eram fortes mesmo! Bem que me avisaram! Dá mesmo vontade de pedir a cesárea”. Esses eram meus pensamentos naquela hora. Tentei ficar firme e pensar que tudo passaria logo e que estava valendo a pena. Depois que tomei a anestesia (aproximadamente 1 hora após minha chegada ao hospital e com 6cm de dilatação) fiquei relaxada. As dores tinham cessado e agora precisávamos esperar a dilatação aumentar para iniciar a parte ativa do parto. Ficamos 2 horas conversando (eu, meu marido e a Paula) sobre assuntos diversos enquanto ela fazia o acompanhamento do bebê, monitorando batimentos cardíacos sem cessar. Toda a insegurança com relação ao estado do bebê (a Marina) deu lugar a uma tranqüilidade inexplicável. Acho que eu estava cansada por ter dormido mal ou nem dormido nas duas ultimas noites.
Então por várias vezes começava até a cochichar enquanto eles conversavam. Nem parecia um “trabalho de parto”. Rompemos a bolsa e todo aquele líquido saiu. Isso intensificaria as contrações. Consegui entender também o que era a sensação de ter uma bolsa rompida!
Por volta de 23:40h a Quesia ligou pra gente. Estava chegando de viagem. E quase não consegue chegar a tempo de ver a Marina nascer. Mas deu tempo! Correu para o Mater Dei e pôde me acompanhar durante a ultima meia hora de trabalho de parto. Foi ótimo! Que doula maravilhosa! Foi assistência VIP da melhor qualidade!
Enfim, chegamos aos 10cm de dilatação. Pouco antes de 1:00h da manhã a Marina chegou. Uns 10 a 15 minutinhos de força e olha ela lá! E a sala cheia de gente na expectativa: Estêvão (meu marido), a Paula, a Quésia, a enfermeira, a pediatra e o anestesista. Uma festa só! E todo mundo me dizendo: “Nossa, você fez força direitinho!”.
Eu sem entender nada, pois, somente fechei meus olhos e fiz força. E só abri os olhos quando me disseram: Nasceu!
Inacreditável! Não acreditava na cena. Após a famosa cesárea prévia eu tinha feito um parto normal! E ela estava ali, toda quietinha no meu colo… Que sensação diferente! Me lembrava de tudo que já havia lido sobre parto normal. As sensações da hora do nascimento: o alivio e a descarga de adrenalina, a calma do bebê ao ser colocado junto a mãe. Tudo era mesmo verdade!
Marina nasceu bem demais. Apgar 10! 48,5cm e 2765kg. Não muito grandinha e gordinha, mas na medida exata para realização de um parto normal com tranqüilidade como dizia a Paula, que demonstrou segurança, profissionalismo e competência durante todos os meses de pré-natal e no trabalho de parto.
Gostei demais da experiência. Faria tudo de novo. As dores eram bem fortes mesmo. Mas não consigo mais lembrar exatamente sua intensidade. Só sei que não sentir minhas pernas adormecidas, sem poder levantar a cabeça e ter que ficar ali sendo costurada já não fazem parte do meu relato de parto. Pude ter outra experiência. Com todo respeito a cesárea (cirurgia útil e graças a Deus existente para situações específicas e/ou emergenciais), digo e repito: Parto normal é tudo de bom!
Kelly Chalub Couto
Mãe de Lucas (3 anos e 4 meses) e Marina (24 dias)

Kelly