Maria Lúcia Gontijo

Sou jornalista há 10 anos. Já escrevi matérias tristes, difíceis, alegres e muito emocionantes. Mas nada, nenhum texto foi e será mais desafiador que relatar meu último parto. É muito difícil escrever sobre um sonho, sobre mim, sobre detalhes que eu fazia questão de guardar pra mim quando as pessoas perguntavam sobre o parto, mas pode encorajar muitas mulheres com histórias semelhantes à minha. Então, vamos lá! Vamos voltar em 2013. 16 de maio. Dia que virei mãe e pela primeira vez recebi minha filha nos braços. Estava com 38 semanas. Tudo muito saudável. Vivendo um sonho ao esperar pela minha Cecília. Eu e meu marido fomos a uma consulta de rotina com o médico que eu havia escolhido, por achá-lo mais humano e pela possibilidade de ter minha menina no plantão com ele (como se o bebê soubesse o dia que o médico estaria disponível no hospital rsrs). Não fiquei com o médico que me acompanhou no pré-natal por achá-lo cesarista e, além disso, não tinha grana para pagar o parto com ele. Enfim, juntamos um pouco de receio e falta de informação também. Resumindo, com 38 semanas esse médico me disse que eu estava com 4 cm de dilatação e que não ia me liberar para voltar para casa. “Você vai ter seu bebê hoje. Pode escolher cesárea ou normal, mas se for normal corre o risco de ficar mais de 12 horas no soro, igual aquela moça ali”, disse o médico. Eu e meu marido, acuados, decidimos pela cirurgia. Ciça nasceu super bem e foi para o meu peito. Depois, a levaram para dar banho e mil procedimentos longe de mim. Só então me devolveram, na sala de pós operatório. Meu marido acompanhou tudo e eu, nesse tempo, fiquei sozinha.
No final de tudo o médico disse que ainda bem que havia sido cesariana, pois havia circular de cordão umbilical no pescoço e que, por causa disso, ela estava correndo risco de vida. Na hora, assustamos e demos graças a Deus pela cirurgia. No decorrer do tempo, aquilo ficou martelando na minha cabeça. Pesquisei e vi que muitos bebês nascem com circular no pescoço e isso não é indicativo para cesariana. Me senti feita de boba e coloquei na minha cabeça que na segunda gestação seria diferente.
Janeiro de 2017. Acompanhei uma grande amiga, Ana Elisa, num parto natural intenso, demorado, mas muito idealizado por ela. Saí do hospital feliz por ela, mas meio descrente que conseguiria viver aquilo. Julho de 2017. Engravidei novamente. Uma felicidade sem fim e a certeza que tentaria parto normal/natural. Procurei o Instituto Nascer depois que uma grande amiga, Andressa Cassetti, da Felice Filmes (faz vídeos de parto) me encorajou. Já havia conhecido o IN e até cheguei a entrevistar o Dr. Hemmerson, Dra. Quesia e a doula Bel sobre parto humanizado antes mesmo de engravidar da Cecília.
Conversei com meu marido e resolvemos investir nesse acompanhamento diferenciado. Pois foi a melhor decisão da minha vida! Logo na primeira consulta, Dr. Hemmerson já começou a falar sobre parto. E já me perguntou como eu imaginava o parto. Eu, sem pestanejar, falei “natural na banheira”. No meu subconsciente era essa imagem que vinha sempre que pensava no meu parto. Achei maravilhoso Dr. Hemmerson perguntar isso de cara. Geralmente, no começo da gravidez, os médicos adiam esse papo. E nessa trajetória do pré-natal, fui descobrindo coisas, aprendendo outras, fizemos curso teórico, fiz sessão de fisioterapia, massagens e li muito. Cada dia ficava mais confiante.
Marquei uma conversa com a doula Bel e com a enfermeira obstetra Adrinez. Estava munida de informação e com uma equipe afinada. Tudo fluindo muito bem desde o começo. Eu vinha mantendo minha vontade do parto natural na água, mas estava com pé no chão, principalmente por ser um VBAC (vaginal birth after cesarean), parto normal pós cesárea. Pensava: “farei de tudo, mas quem manda é Deus e meu corpo”. E graças a Ele por isso.
Eu, com 38 semanas e 3 dias, fui fazer o curso prático do parto, num sábado! Eu era a gestante com a idade gestacional mais avançada. Estava super disposta. Meu marido já havia deixado a mala pronta no carro. Foi excelente poder tirar algumas dúvidas e movimentar o corpo pro dia tão sonhado. Foi um sábado intenso de muitos compromissos: curso, festinhas de criança, chá de bebê da amiga… Até que chegamos em casa por volta das 0h. Minha filha dormindo exausta e eu cansada, porém acesa. Meu marido sem sono! Mesmo assim fomos dormir, quando, às 2h45 do domingo, acordo com a cama molhada. Bolsa rompeu. Uma felicidade sem fim e tentei manter a calma. Afinal, era um sinal, né? Não significava muita coisa. Avisamos Adrinez, que pediu pra eu tentar dormir, tomar banho, relaxar… E se as contrações começassem era pra avisá-la. Deitei e elas começaram. Fui pro banho e elas intensificaram. Avisamos Adrinez novamente, que pediu para ficarmos atentos e ela já estava arrumando pra sair de casa e ir até a nossa. Nesse meio tempo, tentei comer, vomitei. As dores eram no “pé da barriga” vinham fortes, mas passavam logo. Tive 13 contrações em meia hora! A enfermeira obstetra chegou às 5h15, me avaliou, olhou os batimentos cardíacos do baby, tudo ótimo e evoluindo rápido. Saímos de casa para a Maternidade Unimed às 7h, eu, Samuel, Adrinez, minha mãe e minha filha. Alguém iria imaginar que pegaríamos trânsito num domingo de manhã? Pegamos engarrafamento perto de uma escola onde teria prova de concurso. As contrações intensificando com intervalos menores, eu agarrando a Adrinez com muita vontade de fazer cocô e ela calmamente me segurava e pediu pra minha mãe sair do carro e avisar para os motoristas darem ré pro Samuel passar pois estava com alguém em trabalho de parto! Cena de novela! rsrsrs E assim seguimos a rota.
Chegamos na maternidade às 7h30. Bel e Andressa amiga-videomaker que iria registrar o parto já estavam na portaria e me acolheram. Passei na catraca e mais uma contração daquelas na portaria mesmo. Bel me dando as coordenadas da respiração e eu seguindo! Como me senti segura! Aproveitamos um intervalo para subir para a suíte de parto pela escada. Nos intervalos, eu conseguia raciocinar, até perguntei se meu rímel estava borrado! Hahaha Eu esperava uma dor insuportável e não foi bem assim. Que alívio. Quanto mais contrações, mais perto do nascimento eu estava e isso me ajudou demais. Na suíte, fui pro banquinho debaixo do chuveiro (o mais legal é que no dia anterior eu experimentei essa posição no Curso Prático e achei super confortável), Bel, Adrinez e Samuel molhando minhas costas! Dando a mão, apoio, amor! Banheira cheia, 10 cm, entramos e eu não acreditava que meu sonho estava prestes a acontecer. Daí pro nascimento foi cerca de 20/30 min. Meu marido atrás de mim vendo tudo, a equipe me apoiando e quando Benício apontou a cabecinha eu só curti o momento. Tentei fazer força e Bel me avisou que o Benício que iria “trabalhar”, eu precisava só respirar fundo! Respirei e ele fez todo o serviço! Senti-lo mexendo, se esforçando pra sair, é algo inexplicável. Não havia dor. Havia concentração e uma vontade louca de ver meu filho. Às 8h38 ele nasceu (1h depois da internação). Nem cogitei analgesia! Meu marido o pegou e colocou nos meus braços. Aos 32 anos eu renasci. Me senti PODEROSA. Forte. Vi que nosso psicológico manda muito e o biológico também! Tudo orquestrado maravilhosamente por Deus e por esta equipe que só me acolheu e me mostrou que era possível um VBAC. A suíte de parto foi inundada de amor. Eu só ria, abençoava meu filho e falava “consegui depois de uma cesárea”. O mais impressionante é que ele nasceu com uma circular no pescoço de parto natural na água. Mesmo motivo que me indicaram a cesárea da primeira gravidez. Incrível. Sou muito grata a Deus por me permitir viver esse momento. Meu marido, Samuel, pelo apoio desde o positivo do teste de gravidez, por me encorajar dizendo que o parto é fisiológico (ele aprendeu os termos todos haha) e minha equipe maravilhosa. Dr Hemmerson, um lord que tirou TODAS as minhas dúvidas, a doula Bel, esse ser de outro planeta que me ensinou a respirar e ser mais centrada, a Adrinez, enfermeira obstetra pela precisão, carinho e ao mesmo tempo força, me ajudou taaaanto! E a Andressa, amiga querida, muito mais que uma videomaker, uma irmã que pariu Benício comigo. O vídeo dela refletiu TUDO o que vivi naquele dia. Mulheres, vale a pena confiar em seu corpo. Vale a pena se informar. Estamos vivendo um sonho.

Maria Lúcia Gontijo

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