04/10/16 terça-feira – 40s e 6d. Consulta de rotina pela manhã marcada com o GO no Instituto Nascer, mãe e filha passavam muitíssimo bem apesar do cansaço que eu já sentia, mas nenhum sinal de que nossa pituquinha viria ao mundo. O médico então sempre muito atencioso e cauteloso conversou comigo e com meu marido Diego, sobre até quando aguardar o início do TP e nos passou um texto para refletirmos sobre a indução, caso eu chegasse a completar 42s. Por curiosidade minha pedi um exame de toque: 2cm pra 3cm com 50% do colo apagado. Mas nenhuma dor, ou melhor nenhuma sensação (era assim que meu médico se referia as dores do parto). Após o exame começamos a conversar sobre o descolamento de membrana que poderia ajudar a acelerar o processo. Achamos uma boa e permiti que o médico assim o fizesse. Ainda no consultório quando conversávamos sobre a possibilidade de indução logo veio uma cólica que me fez levantar da cadeira. E dissemos: “Opa… olha que o negócio tá rápido!” Bem, o combinado então era irmos para casa e conversarmos sobre o que faríamos e até quando iríamos aguardar, caso não surgisse nenhum sinal, para que eu internasse e iniciasse a indução. Após a decisão ligaríamos para médico para informar. E assim fomos embora felizes e tranquilos da vida! Diego me deixou em casa, voltou para trabalho e me traria almoço para que então conversássemos sobre qual seria nossa decisão. Aproveitei o tempo para fazer as unhas e dar uma relaxada… algumas cólicas apontavam mas nada demais. Diego chegou, almocei e conversamos. Optamos por aguardar até domingo (quando eu completaria 41s4d) caso nenhum sinal surgisse, internaríamos no domingo à noite ou segunda de manhã para indução. Assim ficaríamos mais ou menos no meio do caminho até completar 42s. Tomada a decisão, à tarde liguei para médico para contar a notícia e aí veio a bomba: Primeiro ele disse que havia ficado feliz com a nossa decisão e que achava que estávamos no caminho certo. Depois me deu a pior notícia que uma grávida pode ouvir do seu GO que lhe acompanhou intensamente nos últimos meses: “Vou precisar me ausentar para uma viagem a partir de quinta-feira e só retorno na próxima semana” Nessa hora meu coração veio na boca. Era tudo o que eu não queria ouvir e passei alguns momentos da gravidez pensando o que eu faria se isso acontecesse. Por um minuto pensei “é real… ele vai me abandonar na hora mais sagrada dessa história”. Ele então me perguntou qual era minha opinião sobre sua ausência. Dei aquela respirada e com aquela vontade de chorar eu disse que ficaria triste se não fosse ele a me assistir no parto, caso acontecesse nos próximos dias, mas que confiava em toda a equipe do Instituto e que se fosse outro GO a me acompanhar estava tudo certo pois sabia da competência de todos. Ele ficou feliz em me ouvir dizendo aquilo e se colocou inteiramente à disposição caso eu precisasse falar com ele a qualquer hora do dia. Terminamos a conversa com ele me perguntando como eu estava naquele momento e se havia alguma sensação. Por fim ele disse “Ok, vamos aguardar, apesar de achar que vai ser essa noite”. Desliguei o telefone e pensei como ele pode achar que vai ser essa noite se a única coisa que sinto agora são “coliquinhas”?! Hahaha sabe de nada inocente!
Passei a mão no telefone e mandei um WhatsApp de desabafo para minha doula – Lena (também do Instituto e um verdadeiro anjo em nossas vidas) contando tudo o que havia acontecido, inclusive sobre a bomba que havia recebido. Assim que contei tudo ela escreveu: “Vai ser hoje!” E me tranquilizou e passou a tarde toda me acompanhando e dando dicas do que fazer. Segui um de seus conselhos e tirei um cochilo junto com a Mia – a minha cadelinha que foi companheira durante 2 semanas enquanto estava em casa…por volta das 19h segui mais um conselho dela e fui tomar uma ducha relaxante… liguei meu mantra preferido… coloquei o difusor com umas gotinhas de lavanda na tomada, investi na bola com muita água quente nas costas… investi tanto na bola que minha bolsa foi por água abaixo, mas isso eu só descobri horas depois porque eu não senti e não vi ela romper. 40 minutos depois fui para o sofá assistir TV e aí minha gente a coliquinha virou Cólica com C maiúsculo! Fui me auto tapeando e levando aquela sensação adiante! Diego chegou e ficamos ali conversando e curtindo o momento. Aproveitei para fazer um lanchinho já pensando na possibilidade de passar fome nas próximas horas! As 22:30h mandei uma mensagem pra Lena contando que eu estava sentindo uma pressão no baixo ventre e que já não tinha muitas posições confortáveis. Ela me recomendou bolsa de água quente e tentar descansar. E orientou que eu precisava ter 3 ou 4 “cólicas” fortes em 10 minutos e que cada uma precisaria durar pelo menos 40 segundos para consideramos TP ativo e que provavelmente isso deveria acontecer por volta das 2 da manhã! Santa Lena!!
Seguindo então as dicas, eu e Diego fomos dormir. Ele foi né?! Porque eu já não conseguia muito achar uma posição. Por volta de 2 da manhã (bendita Lena, bendito Dr. Hemmerson) não teve jeito, a sensação foi de dor mesmo e eu pensava “será isso uma contração?” Que sensação mais louca… não conseguia definir o que eu sentia. Comecei a marcar a duração e o intervalo mas tudo estava muito confuso… não tinha ritmo nem frequência. A dor vinha de 1 em 1 minuto para mais ou para menos … a pressão no baixo ventre havia se intensificado. E então? Bora para o chuveiro sentar na bola, porque né?! Apertou vai pro chuveiro!!!
Nessa hora pedi ao Diego que mandasse mensagem pra Lena e contasse o que estava acontecendo e ela nos orientou a ligar para o médico e assim Diego fez. Nessa hora lembrei de Dr. Hemmerson- nosso médico, nos dizendo que sabe exatamente qual é a hora de ir para maternidade, que é quando o marido. A pedido da esposa, liga relatando as dores e ele a ouve no fundo gritando! rs … e foi mais ou menos assim que aconteceu!
Ele fez algumas perguntas do tipo: de quanto em quanto tempo vinham as contrações e qual era a intensidade da dor. E eu pensava “nossa essa conversa deles está demorando demais… eu só quero ouvir que está na hora de ir para maternidade”. As 3h da manhã a decisão foi tomada em conjunto, pegamos as malas e partimos pra maternidade – o caminho mais longo e dolorido que já percorri e que durou somente 10 minutos. A essa altura meus gritos já eram altos o suficiente para mostrar ao mundo e aos meus vizinhos o quanto a dor era intensa! O quarto PPP já estava à minha espera e ao chegarmos lá vimos na recepção que Dr. Hemmerson e Lena já nos aguardávamos. Dei um abraço apertado em Lena e disse a ela:” Eu não consigo para de gritar” e ela respondeu dizendo baixinho “Calma…respire…está chegando a hora”. Dr. Hemmerson também me recebeu com um abraço, que mais tarde me contou que o rejeitei bem no momento que a dor veio!!! Disso eu não lembrava!
Me fizeram subir 2 lances de escada para que eu continuasse a me exercitar. Ao entrar no PPP logo ouvimos os batimentos normais do coraçãozinho de nossa pituquinha e em seguida fizemos um exame de toque e assim que o médico tocou: bolsa rota e acreditem, eu não quis saber quantos cm eu estava … já que no consultório eu já estava com quase 3cm, resolvi só pensar positivo e seguir em frente. E aí o trajeto da maratona que já havia iniciado lá em casa começou a ficar sinuoso, mas com a ajuda de minha doula, do meu marido e do meu médico tudo ficou mais leve … fui para banheira… as dores se intensificaram … a pressão no baixo ventre era maior ainda… uma dor no quadril já tomava conta de mim e a cada dor, Lena e Diego faziam massagem e era óoootiiimmmooo ! As palavras de Lena me encorajavam e deixavam minha respiração mais tranquila e aquele nervosismo que eu sentia quando cheguei se transformou em algo que não consigo traduzir… A luz baixa e uma música ambiente me fizeram perceber que ali era o lugar certo e a hora de Olívia estava chegando! Dr. Hemmerson me deixou muito a vontade e de tempos em tempos ele entrava no quarto para conferir como tudo estava indo. Passados cerca de uma hora e meia mais ou menos, fizemos outro exame de toque e dessa vez eu quis saber, já que as dores eram muito fortes e aí minha gente a segunda bomba do dia: 4cm para 5cm MISERICÓRDIA de mim … pensei: “eu não vou aguentar” mas o médico disse “você está ótima… parabéns” e aquilo de uma maneira ou de outra me deu forças pra ir em frente. Ainda na banheira, onde fiquei grande parte do tempo pude até perceber que depois de muitos dias chovia em Belo Horizonte! Passados uns 30 minutos as dores que vinham a cada contração e que eram SURREAIS se tornaram dores de outra galáxia e vieram acompanhadas com uma super vontade de fazer força. Eles me diziam: “não faça força, ainda não é a hora” e eu que já estava lá em Mardelplata dizia que aquela força era incontrolável. Eu não desejava fazer aquela força toda, mas no mundo da Partolândia tudo pode acontecer !! E então assim segui fazendo aquela força de período expulsivo só que fora do período expulsivo. Após mais um exame de toque: 6cm … e um turbilhão de sensações atingiu em cheio minha mente, corpo e coração. E as primeiras coisas que me vieram a cabeça era de que eu não iria aguentar até o final sentindo aquela dor toda e que eu já estava exausta e que claro eu queria ANESTESIAAAAAAA. Detalhe eu estava ali há menos de quatro horas e sentia que o dia já havia começado e terminado novamente. Todos ali literalmente me tapearam para que eu não me rendesse à anestesia e assim foi. Saí da banheira e fui para escada de Ling … a cada contração, sem exceção, era um agachamento e uma força enooorrmmeeee, acompanhada das massagens de Lena que se revezava com Diego de tempos em tempos. Os gritos também vinham do fundo da alma. Sentia no coração cada palavra de todos que estavam ali… de que eu era forte, guerreira e poderosa! Sentia cada gesto de amor e de cuidado… apesar de recusar as comidinhas e de uma vez ou outra aceitar um mel de Diego pra me dar energia e de receber com gratidão de Lena os diversos copos gelados de água e sentir por várias vezes aquele ventinho que ela fazia com seu leque poderoso. Ouvia até os gritos da mulher no PPP ao lado e no meu inconsciente me questionava: “será que vou conseguir primeiro que ela?” Será que minhas dores são mais fortes do que a dela?” É uma loucura mas pensei exatamente isso. Voltei para banheira e a dor no quadril que veio arrebatando meu corpo me fez mudar de posição dentro d’Água e Diego que aguentou firme todo o tempo me abraçou em seu colo dentro da banheira recebendo toda aquela pressão a cada contração. No pequeno intervalo de uma contração e outra ele me retribuía com um sorriso e dizia que Olívia estava chegando e com certeza isso me deu mais segurança e força para continuar. Nessa hora já sentia uma pressão gigante entre as pernas. Me recordo que nesse momento eu punha pra fora gritos muitos altos que liberavam uma energia imensa junto a força que eu fazia. Diego até chegou a pensar que Olívia estava apontando por ali e pegou até a máquina para fazer aquele registro…rs, mas calma, não foi dessa vez!
Passado mais uma horinha meu médico entrou para checar tudo e o exame de toque dessa vez foi extremamente dolorido e com certeza diferente dos anteriores. E? 8cm. Uuuuhhuuu! Nessa hora era difícil caminhar, era difícil sentar, e por mais que eu quisesse era difícil relaxar… as dores não me deram trégua, a não ser em um único minuto onde cantei um mantra e chamei por Olívia.
Uni forças e fui para o chuveiro… as pernas doiiiiiiiaaammmmm muuuuuito e o quadril queimava… fui para cama buscar outra posição em quatro apoios… dali fui pra banqueta onde Diego teve total importância pois me ajudava a fazer força e me empurrava pra frente quando vinha a contração. O médico voltou e ao checar a dilatação… minha gente, se o exame anterior já tinha sido dolorido esse então foi avassalador, e??? 9cm Uuuhhuuuuu e todos se animaram. Dr. Hemmerson até abriu os materiais e deixou tudo preparado para receber Olívia e me disse: “seu partograma está lindo … vai nascer até meio dia.” Até Dra. Ludmila – a 2ª obstetra do Instituto já havia chegado. Nesse momento meu coração se encheu de uma energia tão grande que tudo o que pediam pra eu fazer nessa hora eu fazia … voltei pra banheira e aí meninas .. o trem ficou feio demais … o relógio marcou 12:00… marcou 13:00 ..marcou 14:00h. E de 9cm eu não passei. Eu não evoluía para dilatação total. Comecei a questionar se algo de estranho estava acontecendo e batata: assinclintismo + transverso persistente. Olívia que mantinha os batimentos cardíacos fortes o tempo todo estava com a cabecinha virada de lado e com o tronco transverso. Não conseguia descer.
Fui para chuveiro e na companhia de Lena comecei a questionar o que poderíamos fazer naquele momento já que nem forças para agachar eu tinha mais. No momento da contração minhas pernas tremiam incontrolavelmente. Chamamos o médico e eu disse que precisávamos conversar sobre o que estava acontecendo… eu já estava exausta e precisava entender até quando eu ficaria ali e o quanto de força ainda precisaria ter para chegar ao fim da maratona.
O médico pediu que eu deitasse na cama na tentativa de realizarmos uma manobra… sem sucesso pois eu não suportava mais aquela dor, a pior de todas que já senti na vida. O colo do útero já estava edemaciado já que há muitas horas eu fazia força. Por um minuto me desesperei e chorei. Todos me acolheram, seguraram minha mão e me deram uma segurança que jamais esquecerei. Parei de chorar instantaneamente. Foi então que, após uma conversa em conjunto, partimos para a 1ª alternativa: anestesia. Isso mesmo. Tomei uma anestesia com 9cm de dilatação na tentativa de relaxar e realizarmos uma manobra para que Olívia descesse. O médico me disse que poderíamos ter ficado ali esperando por mais algumas horas. Fizemos cardiotoco e ela estava ótima, forte e determinada a não nascer, não de parto natural, não de parto normal como havíamos planejado durante meses.
É isso mesmo. Numa decisão tomada mais uma vez em conjunto e apontando para a total indicação: após concluirmos que nossa bebê estava com DCP relativo (Desproporção céfalo-pélvica) apresentando a cabecinha virada e o tronco transverso, após 3 horas de expulsivo sem progressão de descida e por muita exaustão minha, Olívia veio ao mundo às 15:50 do dia 05/10/16 por meio de uma cesariana intra-parto MAS cercada de muito amor e carinho, com todos os nossos direitos respeitados. Com certeza, como relatou Dr. Hemmerson: “um nascimento em meio a sensações intensas e emoções tão inesquecíveis!”
E eu não sou menos mulher porque passei por uma cesárea e Olívia não é menos amada porque nasceu pelas mãos de um profissional brilhante.
Se eu faria tudo outra vez? SIM…. absolutamente igual!
E viva a cesárea que veio para salvar vidas quando absolutamente indicada!
A nossa gratidão eterna a Dr. Hemmerson Henrique Magionin, Lena Rubia Borgo Bezerra e Dra. Ludmila Maria Guimarães Pereira pelo carinho, paciência, sensibilidade e principalmente respeito.
O nosso muito obrigado carinhoso a toda equipe do Instituto Nascer que sempre nos atendeu com muita competência.
E o meu muito obrigado ao meu marido – Diego Rezende que correu essa maratona comigo até o fim e acreditou na minha capacidade. Sem ele eu não conseguiria. Te amo!
Viviane Couto
Viviane Couto