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Tenho cesariana anterior e preciso de indução, e agora?

Entenda suas opções com segurança e evidência científica

Se você já teve uma cesariana anterior e agora está grávida novamente, é possível que em algum momento surja a dúvida: “Se for preciso induzir o parto, isso é seguro no meu caso?”

A resposta é que sim, a indução do parto pode ser possível mesmo em mulheres com cesariana anterior, desde que feita com critério, acompanhamento rigoroso e respeitando os limites da segurança materno-fetal.

No Instituto Nascer, acreditamos que o conhecimento empodera. Por isso, preparamos esse texto com base nas diretrizes mais atualizadas da American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), Cochrane, NICE, Uptodate e OMS para esclarecer o que é possível, seguro e indicado em situações de indução do parto após cesariana.

Por que algumas gestantes com cesariana anterior precisam de indução?

A indução pode ser necessária em diversas situações, como:

  • Gestação prolongada (≥ 41 semanas)
  • Bolsa rota sem trabalho de parto espontâneo
  • Hipertensão ou pré-eclâmpsia
  • Diabetes gestacional
  • Crescimento fetal restrito
  • Indicações maternas específicas (colestase, doenças autoimunes etc.)

Mesmo com histórico de cesariana, o parto vaginal após cesárea (PVAC ou VBAC – Vaginal Birth After Cesarean) é uma alternativa segura e recomendada, desde que a gestante preencha critérios clínicos favoráveis.

O que é importante avaliar antes de uma indução em quem tem cesárea anterior?

  • Tipo de incisão uterina da cesariana anterior: cortes transversais baixos (horizontais) são os mais seguros.
  • Número de cesarianas anteriores: geralmente, uma cesárea anterior é considerado seguro para tentativa de parto vaginal.
  • Histórico de complicações uterinas: como rotura uterina ou cirurgias uterinas prévias (ex: miomectomia).
  • Idade gestacional e bem-estar fetal atual
  • Condições do colo do útero (avaliadas pelo escore de Bishop)

Métodos naturais seguros para gestantes com cesárea anterior

Muitos métodos naturais não aumentam o risco de rotura uterina e podem ser aliados na preparação para o parto:

Relação sexual

O sêmen contém prostaglandinas naturais que auxiliam na maturação cervical, e o orgasmo estimula liberação de ocitocina. Seguro se não houver bolsa rota.

Estimulação mamilar

Ajuda a liberar ocitocina endógena. Deve ser feita com cautela e orientação, para evitar contrações excessivas.

Exercícios com bola, caminhada e posturas de encaixe

Favorecem o posicionamento fetal e o amolecimento do colo, sem provocar hiperestimulação uterina.

Tâmaras e relaxamento

As tâmaras mostraram-se seguras e potencialmente benéficas para maturação do colo.

🔩 Métodos mecânicos recomendados após cesariana anterior

Esses métodos são preferidos como primeira linha para indução em gestantes com cesariana anterior, pois não aumentam o risco de rotura uterina.

Sonda de Foley ou balão duplo (Cook)

Método mecânico que promove dilatação progressiva do colo sem induzir contrações intensas. É considerado seguro e eficaz para mulheres com cicatriz uterina.

Dilatadores osmóticos (Dilapan-S)

Expansores que aumentam de volume ao absorver líquido cervical, provocando amadurecimento do colo de forma gradual e sem indução direta de contrações. Estão ganhando popularidade por sua segurança em casos com cesárea anterior.

Descolamento de membranas

Se o colo estiver entreaberto, o descolamento manual das membranas pode estimular o início do trabalho de parto. Estudos mostram baixo risco de complicações, quando feito com cuidado.

Amniotomia (ruptura artificial da bolsa)

Pode ser usada, desde que o colo esteja favorável e o bebê bem posicionado. Após a ruptura da bolsa, é necessário vigilância mais intensa e tempo mais limitado até o parto.

💊 Métodos medicamentosos com restrições ou cautela

O uso de medicamentos para induzir o parto após cesárea anterior exige muita cautela, pois alguns métodos podem aumentar o risco de rotura uterina.

Misoprostol (Cytotec®)

Contraindicado pelas diretrizes da ACOG e RCOG para indução em gestantes com cesariana anterior, devido ao aumento significativo do risco de rotura uterina (até 2 a 6 vezes maior).

⚠️ Dinoprostone (Propess®)

Seu uso é controverso. Algumas diretrizes como a NICE ainda o permitem com cautela, mas ACOG recomenda evitar em mulheres com cicatriz uterina.

Ocitocina endovenosa

Pode ser utilizada com monitoramento rigoroso, especialmente após amadurecimento cervical com métodos mecânicos. Deve-se iniciar com dose baixa, e aumentar progressivamente sob controle da dinâmica uterina e da vitalidade fetal.

Quais são os riscos reais da indução em mulheres com cesariana anterior?

O principal risco é a rotura uterina, embora raro, pode ser grave. O risco estimado varia:

  • Até 0,5% a 0,9% em partos vaginais espontâneos após cesárea
  • Pode subir para 1,5% a 2% com uso inadequado de prostaglandinas ou induções muito agressivas
  • O risco é significativamente menor com métodos mecânicos e naturais, desde que bem indicados

Outros riscos são os mesmos de qualquer indução: falha da indução (evoluindo para cesárea), sofrimento fetal, necessidade de intervenções adicionais.

Mensagem final: É possível ter um parto seguro após cesárea, mesmo com indução

A indução do parto em mulheres com cesariana anterior é possível e pode ser segura, desde que conduzida por uma equipe experiente, com vigilância contínua, métodos adequados e respeito ao tempo do corpo.

No Instituto Nascer, acompanhamos muitas mulheres que escolheram vivenciar o parto normal mesmo após uma cesariana, com resultados belíssimos, seguros e emocionantes.

Nem toda indução é sinônimo de intervenção negativa. Com os métodos certos, no momento certo, e com acompanhamento respeitoso, a indução pode ser uma ferramenta para ajudar o parto a acontecer — e não para substituí-lo.

Você não está limitada por uma cesariana anterior. Com cuidado, apoio e evidência, você pode viver um novo parto, do seu jeito.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes científicas utilizadas

  • ACOG Practice Bulletin No. 184: Vaginal Birth After Cesarean Delivery (2017)
  • RCOG Green-top Guideline No. 45: Birth After Previous Caesarean Birth
  • Cochrane Database of Systematic Reviews – Mechanical and pharmacologic methods for labor induction
  • NICE Clinical Guideline – Inducing Labour (updated 2021)
  • Uptodate – Induction of labor in women with a prior cesarean delivery
  • WHO recommendations for induction of labor (2011)

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