Ultrassonografia Intraparto e Medicina Baseada em evidências: um casamento necessário, mas desafiador.
Nos últimos anos o ultrassom saiu da sala pequena e fria, e entrou com segurança pela porta das salas calorosas de parto, tornando-se um recurso adicional precioso para obstetras e parteiras no gerenciamento do trabalho de parto, com potencial para se tornar uma revolução para a obstetrícia, que é uma das artes médicas mais antigas da história e se baseia há séculos nas habilidades clínicas dos dedos e dos olhos.
Na última década, o uso da ultrasson intraparto ganhou popularidade, especialmente entre países de média e alta renda, e grande interesse da comunidade científica surgiu pela potencial utilidade dessa técnica emergente na melhoria da gestão do trabalho de parto lento.
Apesar de uma riqueza de dados e estudos, o teste mais desafiador para a ultrasson intraparto, como para a maioria dos exames e intervenções, é o da comprovação pela medicina baseada em evidências (MBE). Os poucos ensaios clínicos randomizados que foram produzidos até agora mostraram que o uso de ultra-som intraparto não está associado a melhores resultados de parto e diminuição da morbimortalidade materna e/ou perinatal em comparação com o tratamento padrão.
Não podemos ignorar que os benefícios de uma nova estratégia médica devem ser validados por testes rigorosos antes de serem implementados na rotina prática. Vários erros foram cometidos no passado, quando uma nova técnica ou terapia foi logo adotada pelo sistema de saúde antes de descobrir que seu uso produzia mais mal do que bem.
Não há dúvida de que o casamento entre ultra-som intraparto e MBE é desejável e deve ser perseguido por todos os meios, mas isso é difícil, pois uma avaliação sólida e convincente da utilidade clínica do ultrassom intraparto requer ensaios extraordinariamente grandes e protocolos padronizados para o manejo do trabalho de parto.
Não existe uma solução para facilitar esse casamento, mas acredito que usado de forma pontual e criteriosa, certamente essa união trará mais segurança para o parto e mais paciência para os dedos, olhos e mãos cirúrgicas dos obstetras!
*Fonte: American Journal of Obstetrics & Gynecology – AJOG-MFM
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 3445