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Uso de Progesterona Vaginal na Ameaça de Aborto: O que diz a melhor ciência?

O sangramento no primeiro trimestre da gestação é uma situação que gera medo, ansiedade e muitas dúvidas para as mulheres. Estima-se que até 20% das gestantes apresentem sangramento vaginal nas primeiras 12 semanas, sendo esse o sintoma mais comum de uma condição chamada ameaça de aborto.

Mas será que há algo que possa ser feito para reduzir o risco de evolução para um aborto? Uma das condutas discutidas e estudadas nas últimas décadas é o uso da progesterona vaginal. Vamos entender melhor o que diz a ciência.

O que é ameaça de aborto?

A ameaça de aborto é caracterizada pela presença de sangramento vaginal no início da gestação, geralmente acompanhado ou não de dor leve, com colo do útero fechado e presença de embrião com batimentos cardíacos no ultrassom. Embora muitos casos evoluam bem, até 30% das mulheres com esse quadro podem sofrer perda gestacional.

Qual o papel da progesterona na gestação?

A progesterona é um hormônio fundamental para o sucesso da gravidez. Ela é responsável por:

  • Preparar o endométrio para a implantação do embrião.
  • Reduzir a contratilidade uterina.
  • Modular o sistema imunológico materno para tolerar o embrião.

Deficiências na produção ou na ação da progesterona têm sido associadas ao risco aumentado de abortamento, especialmente em mulheres com sangramento precoce e/ou histórico de perdas gestacionais.

Evidências científicas sobre o uso de progesterona vaginal

As evidências mais robustas vêm de revisões sistemáticas da Cochrane e de grandes estudos multicêntricos, como o PROMISE Trial (2015) e o PRISM Trial (2019), além das atualizações recentes do NICE e do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG, 2023).

Quem se beneficia?

De acordo com essas evidências, o uso de progesterona por via vaginal pode reduzir o risco de abortamento em mulheres com:

  • Sangramento no primeiro trimestre e
  • História prévia de uma ou mais perdas gestacionais.

O estudo PRISM (Lancet, 2019), que incluiu mais de 4.000 mulheres, demonstrou que a progesterona não reduziu significativamente as taxas de aborto em mulheres com sangramento isolado, mas teve benefício clínico claro no subgrupo com histórico de abortamento.

🚫 Quem não deve usar de forma rotineira?

  • Mulheres com sangramento no primeiro trimestre sem perdas anteriores.
  • Mulheres sem sangramento e com gestação evolutiva.
  • Mulheres com perdas gestacionais recorrentes, mas sem sangramento atual.

Para esses grupos, a evidência não demonstra benefício consistente, e o uso generalizado da progesterona pode levar a medicalização desnecessária e aumento de custos.

Qual a forma de uso recomendada?

As principais diretrizes recomendam:

  • Progesterona micronizada vaginal 400 mg, 2 vezes ao dia (total de 800 mg/dia).
  • Início assim que possível após o início do sangramento.
  • Duração do tratamento: até 16 semanas de gestação.

A via vaginal é preferida por sua alta absorção uterina e menor incidência de efeitos adversos sistêmicos.

Existe algum risco no uso da progesterona vaginal?

De modo geral, é considerada segura, com poucos efeitos colaterais, como:

  • Corrimento vaginal.
  • Irritação local.
  • Pequeno aumento do desconforto mamário.

Não há evidências de aumento de malformações ou prejuízo ao feto.

Recomendações atuais de sociedades científicas

  • NICE (2021): recomenda uso de progesterona vaginal para gestantes com sangramento precoce e pelo menos uma perda gestacional anterior.
  • RCOG (2023): reafirma os achados do PRISM Trial e recomenda a mesma conduta.
  • ACOG (Practice Bulletin 200, 2018): sugere que o uso pode ser considerado em casos selecionados, mas reconhece que a evidência é mais sólida para perdas recorrentes do que para ameaça de aborto isolada.
  • OMS: ainda não incluiu o uso de rotina em ameaça de aborto nas suas recomendações, mas reconhece os avanços das evidências.

Considerações finais

O uso da progesterona vaginal na ameaça de aborto é um exemplo de como a ciência pode oferecer intervenções seguras, eficazes e baseadas em evidências — quando bem indicadas.

No Instituto Nascer, seguimos protocolos atualizados e individualizados, considerando a história clínica, o contexto emocional e os desejos da mulher. Sabemos que o cuidado atento e empático faz toda a diferença nesse momento de vulnerabilidade.

Se você está grávida e teve sangramento no início da gestação, converse com sua equipe de cuidado. O uso da progesterona pode sim ser uma ferramenta importante — mas, como sempre, a indicação correta é a chave.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes e Evidências Científicas

  1. Coomarasamy A, et al. A progesterone in women with bleeding in early pregnancy (PRISM trial). Lancet. 2019;394(10104):1993-2001.
  2. Coomarasamy A, et al. Progesterone treatment for unexplained recurrent miscarriage (PROMISE trial). N Engl J Med. 2015;373:2141-2148.
  3. NICE Guideline NG126: Ectopic pregnancy and miscarriage. National Institute for Health and Care Excellence. 2021.
  4. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG). Green-top Guideline No. 17. Recurrent miscarriage. 2023.
  5. ACOG Practice Bulletin No. 200: Early Pregnancy Loss. Obstet Gynecol. 2018;132(5):e197–e207.

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