A jornada para engravidar pode ser uma das mais intensas e transformadoras da vida de uma mulher — e também do casal. Nesse percurso, é natural que surjam dúvidas sobre o papel da vida sexual ativa na concepção: existe uma frequência ideal de relações? Ter relações todos os dias ajuda ou atrapalha? Precisa mesmo esperar pelo período fértil?
Este texto é voltado especialmente para você, que está tentando engravidar ou se preparando para esse momento tão importante. E a boa notícia é que, sim, a vida sexual ativa e prazerosa pode ser uma grande aliada no caminho da fertilidade!
O que significa “vida sexual ativa”?
No contexto da fertilidade, vida sexual ativa significa manter relações sexuais com regularidade, independentemente do período fértil. Diferente do conceito puramente quantitativo, a qualidade da experiência sexual também importa: quando o casal está em sintonia, sem pressões e com prazer, os benefícios hormonais e emocionais são potencializados.
Qual a relação entre vida sexual ativa e chances de engravidar?
A fertilização ocorre quando o espermatozoide encontra o óvulo nas trompas uterinas, o que pode acontecer em uma janela bastante curta após a ovulação — geralmente entre 12 e 24 horas. Porém, como os espermatozoides podem sobreviver até 3-5 dias dentro do trato reprodutivo feminino, manter relações sexuais frequentes ao longo do ciclo aumenta significativamente as chances de concepção.
Estudos mostram que casais que mantêm relações a cada 2 dias durante todo o ciclo têm taxas de gravidez mais altas do que aqueles que concentram o ato sexual apenas no período fértil. Ou seja, manter uma vida sexual ativa de forma espontânea, prazerosa e regular é mais eficaz do que “programar” relações apenas durante a ovulação.
Além disso, a regularidade sexual pode melhorar a qualidade do sêmen e otimizar a produção hormonal da mulher, inclusive com maior regulação do ciclo menstrual. A ausência de estresse e culpa nas relações também é um fator positivo para a fertilidade.
Existe uma frequência ideal?
De acordo com as diretrizes da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) e estudos revisados pelo Fertility and Sterility Journal, o ideal é manter relações de duas a três vezes por semana, sem necessidade de contar dias do ciclo ou recorrer a testes de ovulação em um primeiro momento. Essa frequência oferece uma excelente cobertura do período fértil e ajuda o casal a manter o vínculo afetivo e o prazer sexual.
Ter relações sexuais todos os dias não prejudica a fertilidade — ao contrário do que muitos pensam. Desde que o sêmen seja de boa qualidade, a produção espermática diária é suficiente para manter a concentração espermática adequada. O importante é que a relação seja espontânea e sem pressão.
Sexo com prazer é mais fértil?
Ainda que a ciência não tenha estabelecido uma relação direta entre o orgasmo feminino e maior chance de gravidez, há evidências de que o prazer na relação influencia positivamente fatores hormonais, a lubrificação natural e a receptividade do colo uterino. Além disso, o orgasmo feminino provoca contrações uterinas que podem, teoricamente, favorecer o transporte dos espermatozoides.
Mas mais do que isso, o prazer é fundamental para o bem-estar, a conexão do casal e a redução do estresse — que por sua vez tem efeitos comprovados na fertilidade.
Vida sexual e tentantes: menos pressão, mais conexão
A tentativa de engravidar não deve transformar o sexo em uma obrigação. Estudos mostram que casais que mantêm uma abordagem leve e conectada à intimidade emocional têm menos chances de desenvolver disfunções sexuais durante esse período.
Portanto, ao invés de se prender ao calendário ou fazer do ato sexual uma tarefa, priorize o vínculo, o prazer e a escuta mútua. A fertilidade é favorecida quando o corpo e a mente estão em harmonia.
Conclusão
Manter uma vida sexual ativa, regular, espontânea e prazerosa é uma das estratégias mais eficazes e simples para quem está tentando engravidar. Ao invés de transformar o sexo em um cronograma, o mais saudável é resgatar o prazer, o toque e o vínculo — ingredientes fundamentais não apenas para conceber, mas para viver a experiência da parentalidade com mais consciência e amor.
E lembre-se: cada corpo tem seu tempo. Caso a gestação não ocorra após 12 meses de tentativas (ou 6 meses, se a mulher tiver mais de 35 anos), é indicado procurar uma avaliação especializada para investigar possíveis causas de infertilidade.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes:
- American Society for Reproductive Medicine (ASRM). Optimizing natural fertility: a committee opinion. Fertil Steril. 2017.
- NHS (UK). Trying for a baby. www.nhs.uk
- Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. The effect of male age on fertility: a committee opinion. Fertil Steril. 2015.
- UpToDate. Evaluation and management of the infertile couple.
- Cochrane Library. Interventions for natural cycle fertility enhancement.