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Depressão Perinatal: o que é e como cuidar da saúde mental na gestação e pós-parto

A gestação e o puerpério são períodos de profundas transformações físicas, emocionais e sociais na vida da mulher. Embora muitos esperem que esse seja um tempo apenas de alegria, nem sempre é assim — e tudo bem que não seja. Uma em cada sete mulheres pode desenvolver algum tipo de transtorno mental durante a gravidez ou após o parto. Entre eles, a depressão perinatal é uma das condições mais comuns e mais negligenciadas. Entender o que é, como prevenir e tratar é fundamental para garantir saúde e bem-estar para a mãe e para o bebê.

O que é depressão perinatal?

Depressão perinatal é o termo utilizado para descrever quadros depressivos que surgem durante a gravidez (período pré-natal) ou até um ano após o parto (período pós-natal). Esse termo vem substituindo o tradicional “depressão pós-parto”, por ser mais abrangente e mais fiel à realidade clínica, já que muitas mulheres começam a apresentar sintomas depressivos ainda na gestação, o que antes não era reconhecido.

Qual a diferença entre “depressão perinatal” e “depressão pós-parto”?

A “depressão pós-parto” refere-se exclusivamente aos quadros de depressão que têm início até quatro semanas após o parto, segundo os critérios do DSM-5. Já a “depressão perinatal” inclui tanto a depressão durante a gestação quanto no puerpério (até 12 meses após o nascimento do bebê). Essa mudança de nomenclatura é importante porque permite uma abordagem mais precoce, preventiva e integral da saúde mental da mulher.

Quais as principais causas e fatores de risco?

A depressão perinatal é uma condição multifatorial. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:

  • História prévia de depressão ou ansiedade
  • Estresse psicossocial, como conflitos familiares, violência obstétrica, baixa rede de apoio ou dificuldades financeiras
  • Gestação não planejada ou indesejada
  • Complicações obstétricas ou experiências traumáticas no parto
  • Isolamento social
  • Privação de sono intensa no pós-parto
  • Falta de suporte para amamentação
  • Histórico de traumas, abuso ou perdas

Esses fatores não determinam, mas aumentam o risco. É importante lembrar que qualquer mulher, em qualquer contexto, pode desenvolver depressão perinatal.

Como prevenir?

A boa notícia é que a depressão perinatal pode ser prevenida ou mitigada com estratégias baseadas em evidências, como:

  • Atenção pré-natal e pós-natal humanizada e multiprofissional, com escuta ativa e acolhimento emocional
  • Promoção da saúde mental desde o pré-natal, com rastreamento de fatores de risco psicoemocionais
  • Terapias de apoio e psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, com eficácia comprovada
  • Fortalecimento da rede de apoio familiar e comunitário
  • Grupos de gestantes e puérperas, que promovem vínculo e reduzem o isolamento
  • Apoio à amamentação e ao vínculo mãe-bebê

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da depressão perinatal é clínico, baseado em critérios bem definidos. Os principais sintomas incluem:

  • Tristeza persistente, apatia ou falta de prazer em atividades habituais
  • Irritabilidade, choro frequente
  • Alterações no sono e apetite
  • Sentimento de culpa ou incapacidade
  • Dificuldade de se vincular ao bebê
  • Pensamentos negativos ou, em casos graves, ideação suicida

Instrumentos de rastreio como a Escala de Depressão Pós-Parto de Edinburgh são recomendados por instituições como a ACOG, o NICE e a Organização Mundial da Saúde para triagem de rotina durante a gestação e no puerpério.

Como é feito o tratamento?

O tratamento depende da gravidade do quadro e deve sempre ser individualizado:

  • Casos leves a moderados: psicoterapia é o tratamento de primeira linha. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia interpessoal têm ampla evidência de eficácia.
  • Casos moderados a graves: pode ser necessária a associação com medicação antidepressiva, especialmente inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a sertralina e a fluoxetina, considerados seguros para uso na gravidez e amamentação.
  • O suporte multiprofissional (psicólogo, obstetra, psiquiatra, enfermeira obstetra, doula, pediatra e consultora de amamentação) é fundamental para o cuidado integral.

Saúde emocional materna: a base para uma experiência positiva de parto e pós-parto

Cuidar da saúde mental da gestante e da puérpera não é um luxo — é uma necessidade básica. Quando a mulher se sente segura, acolhida e bem cuidada, aumenta-se a chance de um parto respeitoso, com menor risco de intervenções desnecessárias, e de um puerpério mais saudável e vinculado. A saúde emocional no período perinatal impacta diretamente no vínculo mãe-bebê, na amamentação e no desenvolvimento infantil. E, mais do que isso, promove satisfação, confiança e protagonismo materno, valores centrais na missão do Instituto Nascer.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

📚 Fontes e referências:

  • ACOG Committee Opinion No. 757. Screening for Perinatal Depression. Obstet Gynecol. 2018.
  • NICE Guideline [CG192]. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. 2020.
  • Royal College of Psychiatrists. Perinatal Mental Health Toolkit. 2023.
  • Stewart DE, Vigod SN. Postpartum Depression: Pathophysiology, Treatment, and Emerging Therapeutics. UpToDate. 2024.
  • O’Hara MW, Wisner KL. Perinatal Mental Illness: Definition, Prevalence and Clinical Characteristics. Clin Obstet Gynecol. 2014.
  • WHO. Maternal mental health. https://www.who.int/mental_health/maternal-child/en/

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