Instituto Nascer

A-colica-atrapalha-sua-rotina

Conduta Expectante na Perda Gestacional do 1º Trimestre: O que é? Até quando esperar?

A perda gestacional no primeiro trimestre é uma experiência profundamente impactante. Diante desse diagnóstico, muitas mulheres se deparam com uma difícil decisão: como lidar com a condução da perda? Entre as possibilidades — tratamento cirúrgico (Curetagem ou AMIU), medicamentoso ou conduta expectante —, cada abordagem tem suas indicações, vantagens e limites.

Neste texto, vamos abordar de forma clara e baseada nas melhores evidências científicas o que é a conduta expectante, quando ela é recomendada, o que esperar durante esse processo e quais são os sinais de atenção que merecem avaliação médica.

O que é conduta expectante?

A conduta expectante, também chamada de manejo expectante ou expectação vigilante, consiste em aguardar que o próprio corpo expulse espontaneamente os tecidos gestacionais após o diagnóstico de uma perda gestacional precoce, sem o uso imediato de medicamentos ou procedimentos cirúrgicos.

É uma abordagem natural e não invasiva, recomendada por diretrizes internacionais como o NICE (UK), a ACOG (EUA) e a OMS, desde que a mulher esteja clinicamente estável e se sinta confortável com essa escolha.

Quando a conduta expectante é indicada?

A conduta expectante é uma opção segura nas seguintes situações:

  • Abortamento retido (ou silencioso): embrião sem batimentos cardíacos, mas sem sintomas evidentes de expulsão.
  • Abortamento incompleto: parte do conteúdo gestacional já foi eliminado, mas ainda há restos ovulares.
  • A mulher deseja evitar intervenções e está disposta a aguardar, com acompanhamento médico.
  • Não há sinais de infecção, sangramento abundante ou instabilidade clínica.

Em geral, essa conduta é considerada para gestações até 12 semanas, com critérios de segurança bem definidos.

Quanto tempo posso esperar?

As evidências sugerem que, na maioria dos casos, o corpo inicia o processo de expulsão espontânea em até 14 a 21 dias após o diagnóstico. Segundo o guia NICE CG154 (2019) e revisões Cochrane:

  • Em até 3 semanas, cerca de 70% a 80% das mulheres terão eliminado completamente o conteúdo gestacional.
  • Em abortamentos incompletos, esse número pode ser ainda maior (80-90%).

Após 14-21 dias, se não houver expulsão espontânea ou se a paciente desejar, a conduta pode ser revista — optando-se por tratamento medicamentoso ou cirúrgico (Curetagem ou AMIU).

O que esperar do processo físico? Como é o “trabalho de abortamento”?

O processo é semelhante a um pequeno trabalho de parto, podendo variar muito de mulher para mulher:

  • Início gradual: cólicas e sangramento leve, que podem aumentar com o passar das horas.
  • Fase ativa: dor em cólica abdominal (parecida com cólica menstrual forte), sangramento vaginal mais intenso e eliminação de coágulos ou tecidos.
  • Pós-expulsão: redução progressiva das dores e sangramento, que pode durar até 1-2 semanas.

A mulher deve ser orientada a utilizar absorventes externos, manter boa hidratação e, se necessário, usar analgésicos simples prescritos pela equipe de saúde.

Sinais de atenção: quando procurar ajuda médica?

Apesar de ser segura, a conduta expectante exige orientação clara e acompanhamento atento. A mulher deve ser informada sobre sinais de alerta que indicam a necessidade de avaliação médica imediata:

  • Sangramento vaginal muito intenso (encharcar mais de 2 absorventes grandes por hora por mais de 2 horas)
  • Dor abdominal insuportável ou que não melhora com analgésicos
  • Febre ≥ 38°C ou calafrios
  • Odor fétido na secreção vaginal
  • Desmaios, palidez intensa ou fraqueza extrema

Esses sinais podem indicar infecção uterina, hemorragia ou retenção de fragmentos, e exigem intervenção médica imediata.

Quais são as vantagens da conduta expectante?

  • Evita procedimentos invasivos e anestesias
  • Permite que o corpo realize o processo naturalmente
  • Menor risco de complicações como perfuração uterina ou sinéquias (aderências intrauterinas)
  • Favorece o sentimento de controle e protagonismo da mulher sobre seu corpo
  • É bem aceita por mulheres que desejam vivenciar o processo com mais intimidade e menos intervenções

E as limitações ou desvantagens?

  • Incerteza sobre o tempo necessário para o término completo do processo
  • Pode haver necessidade de intervenção posterior (medicamentosa ou cirúrgica) em até 20-30% dos casos
  • Potencial para ansiedade, angústia e sofrimento emocional ao longo da espera
  • Exige seguimento clínico com ultrassonografia para confirmar a completa evacuação uterina

Por isso, o apoio de uma equipe multiprofissional e acolhedora faz toda a diferença nesse caminho.

O papel da equipe de saúde: cuidar é orientar e acompanhar

A mulher que escolhe a conduta expectante precisa:

  • Ter acesso a informações claras, compreensíveis e embasadas
  • Saber que pode mudar de ideia a qualquer momento
  • Sentir-se amparada emocionalmente e fisicamente pela equipe

No Instituto Nascer, nossa prática é guiada pela escuta ativa, respeito à autonomia da mulher e compromisso com a ciência. Acreditamos que cada história merece ser acolhida com delicadeza e precisão técnica.

Acompanhamento pós-conduta

Após a expulsão completa, recomenda-se:

  • Ultrassonografia de controle (geralmente entre 7 a 14 dias após a eliminação)
  • Avaliação clínica e emocional
  • Oferta de orientações sobre fertilidade, contracepção e planejamento reprodutivo futuro
  • Encaminhamento para apoio psicológico, se necessário

Conduta expectante é cuidado baseado em confiança

A conduta expectante não é “esperar sem fazer nada”. É uma escolha ativa, acompanhada e baseada em evidências, que devolve à mulher parte do protagonismo sobre seu corpo, mesmo em um momento de dor e frustração.

É também um compromisso da equipe de saúde em sustentar o cuidado com escuta, vigilância e prontidão para intervir, se necessário — sempre de forma respeitosa, ética e informada.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Referências científicas

  • NICE Clinical Guideline NG126. Ectopic pregnancy and miscarriage: diagnosis and initial management. 2019.
  • ACOG Practice Bulletin No. 200. Early Pregnancy Loss. Obstet Gynecol. 2018.
  • WHO. Managing complications in pregnancy and childbirth: A guide for midwives and doctors. 2023.
  • Cochrane Database of Systematic Reviews. Medical vs surgical vs expectant management for miscarriage. 2021.
  • UpToDate. Expectant management of first trimester miscarriage. 2024.

Ainda não encontrou a informação que precisava?

Utilize a ferramenta de busca para encontrar o tema desejado.

Olá! Agende sua Consulta pelo Whatsapp
Preencha os campos abaixo para iniciar a conversa