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O que você precisa saber nas consultas de pré-natal — e ninguém te conta

Imagine que você está diante do maior rito de passagem da sua vida — o nascimento do seu filho, o nascimento de você como mãe. Agora reflita: será que o modelo de cuidado que você está recebendo no pré-natal está realmente te preparando para isso?

No Brasil, vivemos uma contradição escancarada: ao mesmo tempo em que temos uma das maiores taxas de cesariana do mundo (57% no geral e mais de 85% no setor privado), convivemos com experiências de parto normal muitas vezes violentas, desassistidas ou dolorosas — e não apenas fisicamente. São partos solitários, apressados, desrespeitosos. É a face cruel de uma cultura partofóbica que tem medo do parto, que o vê como um risco, um fardo, uma urgência a ser contida — e não como um processo fisiológico, potente, transformador.

E é nas consultas de pré-natal que tudo isso começa.

O pré-natal é mais que exame de sangue e ultrassom

A maioria das mulheres brasileiras ainda associa o pré-natal a uma rotina puramente biomédica: pesar, medir, escutar batimentos, pedir exames. Pouco (ou nada) se fala sobre as escolhas reais que ela pode fazer; sobre o que ela deseja; sobre as evidências que sustentam (ou não) uma determinada conduta. Pouco se fala sobre como essa mulher deseja viver o parto — e ainda menos se escuta o que ela tem a dizer.

Mas o pré-natal deveria ser o lugar da escuta, do vínculo, da construção de confiança e do florescimento do protagonismo feminino. Um espaço onde a mulher fosse vista em sua inteireza — corpo, mente, história, desejos e medos.

E, principalmente, um lugar onde ela fosse preparada não para obedecer ordens médicas, mas para tomar decisões conscientes, baseadas em informações verdadeiras e atualizadas.

O que ninguém te conta — mas você deveria saber

Aqui vão algumas verdades fundamentais que, infelizmente, quase nunca são ditas nas consultas de rotina:

  1. Você tem o direito de escolher como quer parir.
    Isso inclui a via de parto, os métodos de alívio da dor, quem vai estar com você e até a posição que deseja adotar. O parto não pertence ao hospital, nem ao obstetra — pertence a você.
  2. Cesáreas salvam vidas — mas seu uso excessivo tira vidas também.
    A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que taxas acima de 15% não trazem benefício adicional e estão associadas a mais complicações, especialmente em gestações futuras. A cesariana é um recurso, não uma conveniência.
  3. Parto normal não precisa ser sofrido.
    Dor não é sinônimo de sofrimento. Com o apoio certo, ambiente adequado, liberdade de movimento e acesso a métodos de alívio da dor — naturais ou farmacológicos —, é possível viver o parto como uma experiência transformadora.
  4. A forma como você é tratada no parto impacta diretamente sua saúde mental no puerpério.
    Mulheres que vivenciam partos desrespeitosos têm maior risco de desenvolver depressão pós-parto, ansiedade e até transtorno de estresse pós-traumático.
  5. Você pode — e deve — fazer perguntas.
    Questionar não é desrespeito. É direito. Pergunte sobre os motivos de cada intervenção, sobre riscos e benefícios, sobre alternativas. Uma mulher bem informada é uma mulher poderosa.
  6. Seu pré-natal deve ser feito por uma equipe interdisciplinar.
    Obstetra, enfermeira obstétrica, doula, psicóloga, nutricionista: todos podem (e devem) fazer parte dessa rede. O cuidado é mais potente quando é plural.
  7. Boas práticas no parto têm nome e sobrenome: medicina baseada em evidências.
    Monitoramento contínuo sem indicação, jejum obrigatório, posição de litotomia, episiotomia de rotina, cesárea por “bebê grande” sem critérios objetivos — tudo isso já foi amplamente refutado por estudos e diretrizes internacionais (OMS, ACOG, RCOG, NICE).

O mercado da cesariana

Infelizmente, o Brasil transformou o nascimento em um negócio. Um mercado onde agendas, conveniências, medos e hierarquias médicas muitas vezes falam mais alto do que a ciência e o desejo da mulher.

E é por isso que tantas brasileiras saem da maternidade com a sensação de que “foi tudo bem” — mas algo se quebrou. Não sabem o nome da médica que fez o parto, não entenderam o porquê da pressa, não foram consultadas sobre nada. Recebem o bebê no colo, mas sentem que o nascimento lhes foi roubado.

Isso não é normal. Isso não é cuidado.

E se o pré-natal fosse sobre CUIDADO de verdade?

O Instituto Nascer acredita que o parto é, quase sempre, consequência de mulheres bem cuidadas. Um cuidado que escuta, que orienta, que respeita. Um cuidado que acredita no corpo da mulher e no potencial do nascimento como experiência humana, emocional, espiritual e afetiva.

Não queremos que você aceite o medo como bússola. Queremos que você se sinta protagonista da sua jornada.

Comece agora, na próxima consulta. Faça perguntas. Expresse seus desejos. Escolha uma equipe que esteja comprometida com você — não com o plantão.

Porque o que ninguém te conta é que o pré-natal pode mudar sua história. E o seu parto também.

Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455

Fontes:

  • World Health Organization. WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: WHO; 2018.
  • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Obstetric Care Consensus. Safe Prevention of the Primary Cesarean Delivery. 2014.
  • National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Intrapartum care for healthy women and babies. 2021.
  • Cochrane Library. Various reviews on continuous support during labour, mobility in labour, and routine practices.
  • Diniz CSG et al. Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipos e prevalência. Interface (Botucatu). 2015.

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