Dormir bem na gestação é um desafio comum — especialmente à medida que a barriga cresce, o corpo muda e as emoções se intensificam. Muitas gestantes chegam ao consultório dizendo: “Nunca tive tanta vontade de dormir e, ao mesmo tempo, tanta dificuldade para conseguir!”
Mas será que é normal dormir mal na gravidez? E o que pode ser feito para melhorar a qualidade do sono de forma segura e natural?
Neste post, vamos falar sobre as mudanças no sono durante a gestação, os principais motivos das queixas de insônia e, o mais importante: estratégias baseadas em evidências para melhorar o sono sem prejudicar o bebê.
Por que o sono muda tanto na gravidez?
Durante a gestação, o corpo passa por profundas transformações hormonais, físicas e emocionais que interferem diretamente na arquitetura do sono.
Entre os fatores mais comuns que atrapalham o sono da gestante, estão:
- Aumento da progesterona: causa sonolência excessiva no início da gravidez, mas também fragmenta o sono noturno.
- Micções noturnas frequentes: o volume de sangue aumenta, os rins filtram mais, e o útero pressiona a bexiga.
- Desconfortos físicos: como dor lombar, azia, pernas inquietas e dificuldade de encontrar posição confortável.
- Ansiedade e pensamentos repetitivos: especialmente em mães de primeira viagem.
- Movimentos fetais intensos à noite.
- Roncos e apneia do sono: mais comuns em mulheres com sobrepeso/obesidade ou aumento significativo do volume abdominal.
É normal dormir pouco na gravidez?
Dormir menos de 6 horas por noite durante a gestação não é o ideal. Evidências sugerem que a privação de sono está associada a maiores riscos de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, trabalho de parto prolongado e parto cesáreo não planejado. Além disso, o sono ruim agrava quadros de ansiedade, depressão e fadiga.
Ou seja: sono é saúde. E na gravidez, ele é ainda mais essencial.
10 Estratégias Baseadas em Evidências para Dormir Melhor na Gravidez
- Estabeleça uma rotina regular de sono
Deite e acorde em horários semelhantes todos os dias. - Evite telas 1 hora antes de dormir
A luz azul interfere na produção natural de melatonina. - Crie um ambiente propício ao sono
Quarto escuro, silencioso, com temperatura agradável. - Posição para dormir: lateral esquerda
Melhora o fluxo sanguíneo uteroplacentário e reduz compressão da veia cava inferior. - Use travesseiros de apoio
Entre as pernas, sob a barriga e atrás das costas para maior conforto. - Evite cafeína à tarde/noite
Café, chá preto, chocolate e refrigerantes devem ser evitados após as 14h. - Prefira refeições leves à noite
Para reduzir refluxo e azia, comuns no final da gestação. - Pratique exercícios regularmente (se liberado)
Melhora a qualidade do sono e reduz sintomas ansiosos. - Use técnicas de relaxamento ou banho morno
Meditação, respiração profunda e banho quente são aliados do sono. - Evite automedicação com fitoterápicos ou suplementos sem orientação médica
Substâncias como valeriana, melatonina e passiflora podem atravessar a placenta. Só usar com indicação profissional.
E se nada funcionar?
Se a insônia for severa ou estiver impactando a saúde emocional da gestante, vale investigar causas como:
- Ansiedade ou depressão perinatal
- Síndrome das pernas inquietas
- Apneia obstrutiva do sono
A abordagem ideal é multiprofissional e humanizada, como propomos no Instituto Nascer, com suporte obstétrico, psicológico, fisioterapêutico e nutricional.
Conclusão
O sono é parte fundamental do cuidado com a mulher e o bebê. Respeitar esse momento, ouvir as queixas com empatia e oferecer estratégias baseadas em evidências faz parte do nosso compromisso com o bem-estar materno-fetal.
Hemmerson Henrique Magioni, Médico Obstetra, Fundador e Diretor Técnico do Instituto Nascer – CRM-MG 34455
Fontes:
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